OPINIÃO

Fraternidade e superação da violência

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Ecoam forte, em nossos ouvidos, as notícias de violência da semana passada, por isso retomo o tema da Campanha da Fraternidade de 2018: Fraternidade e superação da violência. A segurança faz parte dos direitos fundamentais e por isso requer Políticas Públicas, tema da Campanha da Fraternidade deste ano. Os massacres na escola Prof. Raul Brasil, em Suzano, SP e nas mesquitas na Nova Zelândia foram os fatos recentes. Também foram destaque o primeiro ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, com a prisão de dois suspeitos acusados de serem os assassinos. O julgamento, com júri popular, dos réus dos assassinos do menino Bernardo Boldrini. Além de outros tantos assassinatos.

 

Cronologicamente são fatos acontecidos em anos diferentes, com motivações, contextos diferentes e com perfil dos assassinos diferentes. Fatos que têm em comum o assassinato de pessoas, de uso de violência de forma diferenciada. Uma simples comparação entre os fatos revela a complexidade da violência. No caso da escola de Suzano, dois jovens entram na escola matando aleatoriamente quem fossem encontrar e no final se suicidam. No caso Marielle temos um assassinato muito planejado, seletivo e o caso Bernardo se situa num ambiente familiar.

 

A complexidade do fenômeno da violência, desde a sua origem até as suas manifestações, requer de todos muita prudência na sua abordagem. Algo muito difícil por envolver sentimentos fortes de dor, agressão, desejo de justiça e até de vingança. Todo fato violento traz profundas consequências para as vítimas e pessoas próximas, para os agressores e para toda a sociedade. Como diminuir a violência? Certamente, métodos repressivos, vigilância, monitoramento, são indispensáveis, mas não suficientemente efetivos. É preciso crer na educação para a paz levando a sério todas as pequenas violências.

 

A abordagem do tema da violência deve começar na primeira pessoa: Eu também sou violento!? Quais as violências que pratico!? Como me sinto depois de um ato violento!? Como são elaborados e curados os sentimentos de raiva, ciúmes, indignação e os desejos de vingança? Como assumo, reparo, curo as feridas causadas por minhas atitudes agressivas? As estatísticas mostram que a maioria das violências acontecem no ambiente familiar. É o caso do menino Bernardo, de muitos feminicídios e de inúmeras agressões físicas. A prática do perdão, do arrependimento e da misericórdia são fundamentais para curar as feridas e restabelecer a paz.

 

O contexto cultural e social também é gerador violência. Fica cada vez mais evidente que a facilidade e a agilidade do mundo virtual tornou-se um novo e imenso desafio social. Um mundo que requer de todos um imenso esforço de ser melhor compreendido e avaliado por seu imenso potencial. No ambiente virtual, o rosto do outro está ausente, é invisível, é totalmente frágil, é fraco, é indefeso. Para quem não aprendeu a amar o outro, transforma-o em objeto, em inimigo e faz dele o que lhe convém.

 

Cremos na educação. O ambiente escolar envolve uma multidão de pessoas, temos aí um espaço permanente, cotidiano de superação da violência. Pequenos gestos agressivos merecem ser considerados, assim como se considera uma vírgula fora do lugar na elaboração de um texto.

 

O ensinamento de Jesus sobre a superação de todas as formas de violência é de uma sabedoria que serve para todos e de todas as épocas. “Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não cometerás homicídio: quem cometer homicídio, será réu no julgamento’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que tratar seu irmão com ira, será réu no julgamento; quem disser ao seu irmão ‘imbecil’, será réu perante o sinédrio; e quem chamar o irmão de ‘louco’, será réu diante da geena de fogo” (Mateus 5,21-22).

 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo 

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