A escalada de ódio e violência oficial perpetrada na ditadura implantada pelo golpe de 1964 só foi superada pelo genocídio secular da escravidão. O rancor doentio do comando de nosso país foi parcialmente apurado na relação dos mortos e torturados. O método do massacre na escravidão, que condenava à morte ou à mutilação os que se revoltavam contra a falta de liberdade, foi aplicado de modo semelhante pela oligarquia ditatorial. Não foi o Exército Nacional que implantou o horror da perseguição a tantos homens de bem. Foi o pensamento do mal (engenho oligárquico), perverso complô contra a classe operária e campesina, que distorceu a hierarquia militar. E dizem que não havia escândalo. Como deduzir isso, se o dinheiro do trabalhador era roubado de seu destino legítimo (do bem-estar social ) e desviado em gastos estupendos na tortura e perseguição de quem queria o direito de pensar diferente? Nunca foi desígnio do povo brasileiro a prática de atrocidades. Pior ainda, no uso do poder usurpado do povo! O 31 de março, ou 1º de abril, foi engodo à vontade popular, só concretizado pelas leis de exceção, cassações de parlamentares, prisões sem julgamento com direito de defesa, torturas, demissões no serviço público, censura à arte e cultura, censura à imprensa, discriminação de toda sorte, sangue de gente honesta e destruição de famílias.
Vladimir
O exemplo clássico da atrocidade foi o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. Lembrando que as liberdades de pensamento pereceram em holocausto principalmente na área de comunicação, a classe mais ultrajada. Vladimir era um jornalista cheio de sonhos por liberdade e compreensão social, chefe de família exemplar. Foi morto sob tortura. E mais, durante anos e anos, o assassinato nos interrogatórios do DOI-CODI foi apresentado vergonhosamente à nação como suicídio, sem pejo à moralidade. Outras escaramuças de chocar o mundo civilizado, como o atentado contra operários no Rio-Centro, mostram que correu mar de lama, pago com dinheiro do povo sofrido, para punir inocentes, indefesos.
Debate ideológico
Quanto à discussão sobre as questões ideológicas, contrárias ou favoráveis às propostas da Reforma de Bases, apresentadas (1964) pelo então presidente Goulart, é questão de opinião livre. Embora tal emulação fosse radicalmente proibida pela ditadura, hoje (na democracia) é normal ao debate sobre nossa história. O que se torna indefensável é cultuar o pensamento do assassinato mediante uso da força oficial. Ademais, no momento em que se chama o Congresso Nacional e a população a entendimento pela reforma da Previdência, é muito inapropriado impulsionar loas a um período de confinamento sofrido por uma geração tolhida com pusilanimemente em suas liberdades. Cada um pode pensar como quiser, mas a apologia à tortura, não! O período da ditadura registra iniciativas de desenvolvimento, por certo, além de erros de gestão como o projeto de energia de Angra. Estradas foram abertas para o escoamento de nossa produção, salvo a Transamazônica que consumiu fortunas inexplicáveis. Enfim, erros e acertos de gestão. O desrespeito à vida dos filhos de Deus e da Pátria, isso é sempre abominável. Talvez, para evitar tantas amarguras, seja prudente não revitalizar o lado nefasto da intervenção das forças armadas de 64.