OPINIÃO

O Adeus a Agnès Varda

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A sexta-feira começou com uma notícia triste aos amantes do cinema. Morreu aos 90 anos a diretora francesa Agnès Varda. A cineasta, ativa até os 89 anos, faleceu em casa devido a complicações causadas pelo câncer. Reconhecida como uma das mais ativas e influentes cineastas da história do cinema, Varda era também uma das poucas remanescentes vivas do grupo de cineastas que revolucionaram o cinema mundial com a Nouvelle Vague Francesa a partir da metade final da década de 1950. Enquanto críticos da Cahiers du Cinema que se aventuraram atrás das telas como Truffaut, Godard e Rohmer davam seus primeiros passos para mostrar na prática os conceitos que defendiam na icônica publicação, Varda já realizava seus curtas metragens experimentais. Seu filme mais famoso é “Cléo das 5 às 7”, de 1962, uma narrativa em tempo real que é referência até hoje, mas ela também entregou obras cultuadas como  “As Duas Faces da Felicidade”, de 1965, “Os Renegados”, de 1985, “Os catadores e eu” de 2000.

Nascida em maio de 1930, foi a primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro honorária do Festival de Cannes em 2015, pelo conjunto da obra. Vardas foi, também, reconhecida e homenageada em vida. Muita gente, aliás, não mensura a importância de Varda dentro da Nouvelle Vague. Se Claude Chabrol deu aquele que é considerado o “pontapé inicial” do movimento com “La Beau Serge” (Nas Garras do Vício, 1958), Varda já tinha feito, em 1955, um filme que muitos consideram melhor e precursor no movimento, “La Pointe-Courte”.

No ano passado, foi agraciada com  o Oscar Honorário pela carreira e concorreu ao Oscar de melhor documentário com  um  de seus mais elogiados filmes,  “Visages Villages”. Antes de partir, teve tempo de olhar para seu próprio  passado: seu último filme é o documentário “Varda por Agnés” em que ela revisita sua própria obra, e foi exibido no último Festival de Berlim, mas ainda é inédito no Brasil. 

Em tempos em que o streaming toma conta das opções de consumo, e privilegia em 95% produções dos últimos 10 anos, é difícil encontrar filmes de Varda. As poucas locadoras que resistem com um público fiel ao acervo clássico podem ter obras suas à disposição, ma mesmo para colecionadores, encontrar seus filmes lançados no Brasil ainda é uma tarefa árdua. A Versátil lançou, há algum tempo, o box Mulheres no Cinema contendo um de seus filmes – além de filmes de diretoras essenciais como Ida Lupino e Lynne Ramsay - “Uma canta, outra não”, de 1977. Varda já foi revisitada em exibições em Passo Fundo durante o cicloe Mulheres Dirigem do Cinema, promovido pela Casa de Cultura Vaca Profana em 2017, e será uma das cineastas com obras exibidas no Fac CineFórum da UPF, em maio, que será dedicado às mulheres – à frente ou atrás das câmeras. Enquanto contemporâneos da diretora, como Godard, têm entregue obras que buscam ousar na discussão da linguagem mas cuja recepção tem dividido o público, Varda permanecia como uma das poucas cineastas da geração Nouvelle Vague a ser reconhecida por seu cinema autoral, porém desprovido das problemáticas azedas que consumiram os velhos artífices do movimento. Fará muita falta!

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