Entoando as canções africanas, com os tambores e os vestidos típicos da cultura, os senegaleses chamaram a atenção de quem passava pela Avenida Brasil na tarde de sábado (30). A Comunidade Senegalesa de Moukhadimatoul Khidma Passo Fundo, juntamente com senegaleses vindos de outras regiões – Tapejara, Erechim, Marau, Ibirubá e Guaporé, promoveram uma caminhada pela paz e religiosidade. Além disso, a ação foi uma celebração da presença do líder religioso Mame Thierno Imam Mbacké, que veio do Senegal, na África, para a ocasião. O grupo seguiu pela Avenida Brasil até a praça Tamandaré, e depois retornou a praça Tochetto para as cantações religiosas.
De acordo com o antropólogo e professor da Universidade de Passo Fundo, Frederico Santos dos Santos, os senegaleses estavam recebendo na cidade Thierno, bisneto de Sergine Touba, conhecido também por Amadou Bamba. O líder religioso, de apenas 31 anos, possui a função de orientar os senegaleses durante a migração, que por serem muito jovens correm altos riscos de terem complicações durante o processo migratório “Muitos estão a uns cinco anos aqui no Brasil e não conseguiram voltar ainda para o seu país, por razões financeiras e por causa da documentação, eles não tem visto e se saem do Brasil não tem mais condições de voltar”, ressalta. Assim, por não conseguirem voltar ao Senegal e para não perderem o vínculo, estes líderes religiosos tem a função de realizar os rituais.
Durante a caminhada, os cartazes carregados pelo grupo – “Solidariedade”, “Bamba o salvador da humanidade”, “Bamba Obrigado” e “A paz está com quem segue o caminho certo” – demostravam também o desejo de um mundo melhor. “A gente está comemorando a visita de um líder espiritual religioso que é mais alto que nós quando se trata de oração. Ele ensina que sempre temos que agradecer Deus, respeitar e orar para o melhor”, reforça o senegalês Mopou Lo. Ele, que há 10 anos veio para o Brasil e há oito meses se mudou de Passo Fundo para Tapejara agradece a receptividade da comunidade brasileira. “Para mim foi o povo mais acolhedor que eu vi na vida, nunca posso falar mal de um brasileiro, porque me acolheram quando eu mais precisei. Hoje só agradeço e peço Deus tirar essa crise que o Brasil está passando”, ressalta Mopou.
Religião
O pedido de paz durante a caminhada vem especialmente por questões ligadas a religião mulçumana. Segundo o antropólogo, a comunidade em geral vê a condição de que o Islã é uma religião violenta. “Eles tentam pautar que o Islã que eles fazem é na verdade uma religião pacífica, não é terrorismo. Muitas vezes quando as pessoas verificam um mulçumano na rua já pensam que vem para cá causar problemas, e eles estão tentando mostrar justamente ao contrário”, explica.
Imigração
Hoje, Passo Fundo tem aproximadamente 300 senegaleses que vieram para o município em busca de melhores condições de vida e para sustentar os familiares que ficaram no país de origem. “O que foi mais difícil aqui é a língua, porque todos nós chegamos aqui sem falar português, sem falar nada. Mas nós ganhamos muita experiência em conhecer outro país, outra cultura e outras crenças”, pontua Abou Bamba Kara que chegou na cidade em 2015 e hoje já consegue se comunicar muito bem na língua. Na região, são mais de 750 senegaleses, que começaram a imigrar para o país principalmente a partir de 2013.
“É uma cultura diferente, muito animada”
Acompanhando um pouco mais longe, a professora Joana Souza não deixou de se encantar com a celebração dos senegaleses na tarde de sábado. “É a primeira vez que vejo eles fazendo uma caminhada assim, mas já ouvi aqui eles aqui na praça fazendo estas cantações das suas músicas. É muito bonito. Acho que as pessoas precisam sair um pouco do seu próprio mundo e se abrir para novas possibilidades de aprendizagem que os imigrantes trazem para nós”, concluí Joana, que passava das 18h e ainda estava acompanhando as celebrações na praça Tochetto.
Quem foi Bamba
Sergine Touba, conhecido também como Amadou Bamba, foi o líder pacifista que lutou pela liberdade do Senegal contra a colonização francesa sem diretamente apoiar batalhas físicas contra os franceses como outros líderes muçulmanos da região o fizeram na época.