Sonhando nas vitrines
As vitrines não são apenas uma mostra de mercadorias que estão à venda. Elas representam os nossos desejos. Quando olhamos algo em uma vitrine estamos sonhando com aquilo que queremos. O vidro não é suficiente para nos separar das fantasias que carregamos. O subconsciente nos permite tocar e agarrar aquilo que dá brilho aos nossos olhos. Quando criança, eu namorava aviões e carrinhos de brinquedo. Muitos eram apenas para olhar mesmo, como os caríssimos autoramas ou carrinhos elétricos. Objetos de cobiça que nem mesmo Papai Noel tirou das vitrines para me entregar. Depois vieram os desejos de um adolescente com gosto requintado e de bolso esfolado. Namorava discos (vinil, obviamente), binóculos, aeromodelos e equipamentos eletrônicos. Com os discos alguns sonhos foram materializados, mas os outros namoros não chegaram sequer ao noivado. Logo veio a fase das roupas, sapatos e até mesmo automóveis. Sim, eu parava para ver de perto o Maverick V8. Apenas vi, pois o V8 passou muito rápido. O retrato das vitrines está em Bonequinha de Luxo, filme em que a personagem de Audrey Hepburn tomava o café da manhã postada na vitrine da Tiffany`s fissurada nas joias. O atrativo das vitrines estará onde houver uma vitrine. Não importa a época. E muito menos a idade de quem está com o nariz encostado no vidro.
Namorando nas vitrines
Nas últimas semanas, passei a observar o movimento nas vitrines. Se os doces dão água na boca, é claro que os sorrisos das mulheres são indisfarçáveis diante de bolsas e sapatos. Mas e a minha geração, todos com os cabelos brancos e bebedores confessos de Crush e Grapette? Pois não é que a turma continua vidrada numa vitrine? Sim, venho observando o pessoal que dá uma paradinha para conferir as novidades na Multisom do Bella. Lá flagrei um amigo músico e psiquiatra namorando aquelas caixinhas de som da JBL. Outro estava de olho nas lentes da Canon e uma parafernália de acessórios. Enfim, continuamos curiosos insaciáveis em busca de novidades. Temos os desejos do consumismo, é bem verdade. Mas essas vitrines têm um magnetismo que nos mantêm por décadas com o olho no outro lado do vidro. É um encanto mágico, onde nossos olhares acabam enfeitiçados. Olhamos aquilo que gostamos e exercemos a plenitude do desejo. Muitas vezes é difícil de concretizar, mas nunca impossível para sonhar. Na verdade, ainda somos as mesmas crianças sonhando com um brilho nos olhos. Como faz bem ao ego namorar numa vitrine.
A grande vitrine
Semana passada, a CDL de Passo Fundo reuniu a imprensa para o já tradicional jantar de integração. Ali estava um retrato mais característico da vocação de Passo Fundo: a prestação de serviços. Isso começou quando os primeiros tropeiros passavam por um ponto fundo de um rio para, enfim, usufruir do nosso aguadero. Aqui, além da água, encontraram a hospitalidade e as portas abertas. Era o início de um comércio forte que hoje brilha nas vitrines de Passo Fundo. E a mídia também é uma vitrine. Assim, a CDL reuniu a maior vitrine desta metade Norte do Rio Grande do Sul. Sim, aqui temos vitrines nas ruas e shoppings, além da vitrine da propagação da mídia. Assim, quando a presidente Carina Sobiesiak abriu as portas da CDL e nos convidou para a mesa, estava cumprindo a vocação hospitaleira de Passo Fundo. Somos, com muito orgulho, uma imensa vitrine.
Vitrines ao léu
É cada vez mais difícil andar pelas calçadas da Avenida Brasil. Na sombra das marquises ficam as mercadorias dos ambulantes, obrigando as pessoas a pegar um bronzeado. Ou chuva. Agora, empresas de telefonia colocam pequenos balcões nas calçadas. Isso não é apenas falta de respeito. É deboche. E vai ficando por isso mesmo.
Primeiro de Abril
O 1º de abril já teve a sua época. É o dia da mentira, da pegadinha do trote ou de alguma brincadeira. Agora, porém, diante de tanta mentira, já perdeu a graça. Acredito, foi num primeiro de abril que surgiu o primeiro fake News. Mas antigamente, desde o momento em que saíamos da cama, nos cuidávamos para não pagar mico. Enfim, é o Dia dos Bobos e houve um tempo em que a data era reverenciada. Bobagem de criança, besteira de mau gosto de gente grande. Mas, para alguns, parece ser tão divertido que até há quem comemore a mentira na véspera.
Trilha sonora
Hoje não vou fugir daquela surrada prática de rodar a música com o título que combina com o texto. Chico Buarque – As Vitrines.
Use o link https://bit.ly/2I1Vhvq