OPINIÃO

Ensaios espiritualistas, por H. A. Annes

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Ainda que tenha declarado, nas “Palavras Iniciais”, escritas em Montevideu e datadas de 25 de abril de 1963, que constam na abertura do livro “Na estrada da vida”, publicado em 1966, jamais ter frequentado um centro espírita, Herculano A. Annes, nos seus escritos, que rotulou de “ensaios espiritualistas”, demonstrou conhecimento e forte apego à doutrina espírita. A obra “Na estrada da vida”, impressa para o autor pela Livraria do Globo, de Porto Alegre, foi originalmente destinada à circulação restrita entre familiares. Sobressai-se pela cultura humanística do autor, que a recheia com citações de pensadores dos mais variados matizes, e pelo apego de Herculano e da esposa Cecy à espiritualidade, para afugentar a depressão e os problemas que comumente rondam as pessoas no limiar da velhice. Nesse aspecto, é um livro iluminador, cuja concretude, pelo que deixou transparecer no tópicos “Fim de uma passagem, fim de um livro”, página 282, foi fundamental para Herculano suportar a morte de Dona Cecy, ocorrida em 12 de setembro de 1964. Afinal, quem foi Herculano Araujo Annes, o patrono da cadeira nº 15 da Academia Passo-Fundense de Letras? 

 

Herculano Annes nasceu em Passo Fundo, no dia 19 de março de 1898. É filho do coronel Gervasio Lucas Annes (1853 - 1917), advogado (rábula) e destacado líder político do Partido Republicano, e de Etelvina Araujo Annes (1860-1901). Estudou no colégio dos jesuítas, em São Leopoldo, e, em 15 de maio de 1920, casou-se com Cecy da Rosa Coutinho (1901 - 1964).


Em 1921, aos 23 anos, formou-se no curso de Direito pela Faculdade Livre de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul, atual Faculdade de Direito da UFRGS, com sede em Porto Alegre. Depois da formatura em Direito e do casamento, Herculano e Cecy fixaram residência em Passo Fundo, onde nasceram os filhos Flávio Coutinho Annes (1921 - 1990), engenheiro-agrônomo, professor e diretor da Faculdade de Agronomia da Universidade de Passo Fundo (UPF); Antenor Coutinho Annes (1922 - 1958), contabilista; Murilo Coutinho Annes (1925 - 2007), advogado formado em Direito pela UFRGS, juiz e interventor (1964 - 1970) e reitor e professor da UPF (1970 - 1979); e Branca Annes Degrazia (1926).


Herculano Annes foi fundador e diretor do semanário “A Época”, em 1923, em cujas páginas escreveu artigos que marcaram indelevelmente um período conturbado da vida política e administrativa do Rio Grande do Sul. Mas, sem dúvida, sua maior contribuição para a imprensa local foi a criação do jornal O NACIONAL. No dia 19 de junho de 1925, uma sexta-feira, circulou a primeira edição de O NACIONAL, com o epíteto de “Jornal Independente”, constando no expediente como diretor Dr. Herculano A. Annes e seus primos, Hyran de Araujo Bastos e Americano de Araujo Bastos, como gerentes. A redação e a gerência de O NACIONAL, na época, funcionavam na Livraria Nacional, localizada na Praça Marechal Floriano, números 25, 27 e 29, no centro da cidade. O Dr. Herculano A. Annes esteve à frente de O NACIONAL durante 15 anos (até 30 de abril de 1940), imprimindo, nesse jornal, uma linha editorial marcada pela imparcialidade, ao levar à risca o lema da “liberdade máxima dentro da máxima responsabilidade”, conforme expresso no editorial da primeira edição, que se comprometia com o respeito à liberdade alheia, não concedendo anonimato e nem admitindo parcialidade em assuntos relacionados com política partidária e vida religiosa.
No exercício da advocacia, Herculano A. Annes destacou-se especialmente na área empresarial. Detentor de cultura jurídica diferenciada, o Dr. Herculano Annes conquistou posição de destaque entre os pares, tendo sido fundador e presidido, por diversas vezes, a subsecção da OAB do Rio Grande do Sul em Passo Fundo.
Herculano A. Annes morreu no dia 19 de dezembro de 1967. Em sua homenagem, no ano seguinte, o então prefeito Mário Menegaz mandou construir uma praça junto à ponte do Rio Passo Fundo. Era o reconhecimento da municipalidade pelo muito que ele fez por Passo Fundo.

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