OPINIÃO

A Religião da Humanidade

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Os séculos XVIII e XIX marcaram o esgotamento de parte da sociedade no que se refere ao relacionamento com a Igreja. No novo tempo que se seguia ao Iluminismo dava-se um basta às trevas, ao Deus punitivo que “condenava” os despossuídos de fé irracional às chamas. As conquistas da ciência colocavam uma enorme interrogação na divindade, daquilo que era porque era porque Deus queria que fosse e que não deveria (de forma alguma) ser contestado. As lentes telescópicas mostravam os céus e as estrelas assim como mostravam nas lentes microscópicas as nossas entranhas e não se sabia onde morava o maior mistério, onde haveria mais a se saber, fora ou dentro de nós. Antes, havia a fé incondicional e retomávamos os pensamentos de Sócrates: pare de terceirizar teu destino ao Criador, faça por merecer; não existe Deus do amor e do desamor, é de ti que virão os acontecimentos do cotidiano. Em outras palavras, o mundo é redondo a funciona tal qual um bumerangue = o que vai, volta. Deus, se existe, é para coisas maiores e não para a pequenez das nossas preocupações.


Então, os pensadores passaram a jogar a pá de cal sobre a irracionalidade da fé e colocar sobre os ombros dos humanos a responsabilidade dos seus destinos. Era necessário buscar o melhor do que cada um de nós poderia ser. Niesztche propunha o super-homem, aquele desapegado de convicções pré-moldadas como religião, ideologias, ticeteraetal. Somente desapegado o homem seria absolutamente livre (caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento) e mergulhado em seus pensamentos brotaria a salvação de si mesmo e (porque não?) da humanidade.
No século XVIII em Paris (sempre em Paris) um matemático chamado de Augusto Comte começou a desenvolver um raciocínio de que a evolução do ser humano seguia 3 passos: o primeiro ere religioso (infância ou aceitação da fé sem possibilidade de elucubrações), o segundo era metafísico (autoquestionamento de tudo, tipo fase Raul Seixas) e terceiro que seria o definitivo, a racionalização. O homem nada era solitariamente, era um se r comunitário ou social (sociologia). Nesta fase final buscaríamos nossos destinos sem Deus (Comte era ateu). O homem de Comte teria que ter amor e altruísmo (transcendência?), a sociedade de Comte teria amor como princípio, ordem como regra e progresso como fim, que é mais ou menos o que está escrito na nossa bandeira. Aliás, Floriano Peixoto queria outra (parecida com a bandeira do estado de São Paulo) e não essa, monárquica e imperial e com a frase ordem e progresso da inspiração positivista de Comte e sob a batuta de Benjamin Constant Botelho de Magalhães. O progresso da sociedade sem as amarras da religião divina marcaria Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Getúlio Vargas e, talvez, Osvaldo Aranha e os gaúchos dominaram a política republicana do país na infância do período pós-monárquico. A Religião da Humanidade seria pelos homens e sem divinizações. Comte imaginava estimular ponte de progresso ininterrupto aos destinos das nações por seres “iluminados ou positivistas”, que seriam os meritocratas; depois, escolheriam os melhores e fariam um círculo menor ainda, os aristocratas; depois ainda, quem sabe, um tirano, o melhor de todos a dirigir os destinos de todos. Deve ser por isso que Olavo de Carvalho essa semana caiu de pau no Positivismo de Comte.


Revendo a primeira epístola de São Paulo aos Coríntios (ainda que eu falasse a linguagem dos anjos e dos homens...) há referência de que precisamos ter 3 virtudes: fé, esperança e caridade. A caridade seria a mais importante delas porque era a linguagem de Deus. Caridade de Deus e altruísmo de Comte levam-nos ao mesmo lugar, mesmo que nossas pretensas inteligências não aceitem: levam-nos a Deus, o incompreensível, o insondável. Deus não é para se entender, Deus é para se viver.

Gostou? Compartilhe