Guardião de memórias

Com um acervo de mais de 1,1 mil volumes e 15 mil documentos, entidade celebra 65 anos nesta segunda-feira (15)

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No início, o Instituto Histórico de Passo Fundo compartilhava o espaço na Academia de LetrasNo início, o Instituto Histórico de Passo Fundo compartilhava o espaço na Academia de Letras
No início, o Instituto Histórico de Passo Fundo compartilhava o espaço na Academia de Letras
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No ano em que o Brasil chorou a morte do seu presidente, depois que Getúlio Vargas disparou contra o próprio peito, no Palácio do Catete, os acontecimentos de 1954 se tornariam emblemáticos para a história recente brasileira e um marco para a cidade de Passo Fundo. Apresentado à sociedade passo-fundense no mesmo período em que numerosos manifestantes inflamavam as ruas centrais da cidade, o Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF) completa 65 anos, nesta segunda-feira (15).

 

Abrigando, em sua nova sede, mais de 1,1 mil volumes e 15 mil documentos, a entidade se mantém, no Espaço Cultural Roseli Doleski Pretto, como um memorial históricos, lembrando de fatos que jamais deveriam cair em esquecimento e que auxilia na constituição de indivíduos identitários formadores de uma sociedade. “É a instituição mais antiga de guarda e preservação ativa ainda no município”, conta o secretário-geral do IHPF, Djovan Carvalho. Idealizado pelo escritor e jornalista Jorge Edeth Cafruni, na década de 1950, os membros, inicialmente, foram acolhidos pela Academia Passo-Fundense de Letras. “Foi a nossa primeira casa”, lembra o historiador e presidente do Instituto Histórico de Passo Fundo, Fernando Severo de Miranda.

 

Uma história construída a muitas mãos
“O Instituto não estaria mais em atividade se não fosse o Dr. Pedro Veríssimo da Fonseca. Ele, em um momento de extrema dificuldade da entidade, teve a iniciativa de reunir lideranças e reviver o instituto”, alude Miranda. Com os olhos fitando o horizonte, como quem tenta recordar sobre a própria história, ele percorre os corredores brancos e o acervo com a precisão de quem está à frente do instituto há mais de cinco anos. “Como não tínhamos uma sede própria, conseguir as peças do acervo era uma dificuldade porque se concentravam nas casas de algumas famílias. Mas, agora recebemos arquivos e visitas porque buscamos uma sinergia grande com a comunidade”, destaca.


Na sala da presidência, observado pelo quadro do médico-historiador a quem atribui à permanência do espaço, Miranda exibe orgulhoso uma placa grifada em azul que data da inauguração do Instituto Histórico e recorda as diversas mudanças de endereço da entidade até a construção da nova sede, há dois anos. “A fachada da Academia de Letras começou a ficar tão deteriorada que quase acabou caindo, sendo sustentada por andaimes com pilares de madeira até que houve um movimento pela conservação dessa fachada centenária”, descreve. O novo espaço, construído em 2007, recebeu o nome de Dr. Carlos e Celina Madalosso, homenageados por viabilizar o projeto com a cedência do espaço físico.


A história também é contada pelas páginas dos jornais
“A primeira nota falando sobre o Centro de Estudos Históricos é publicada no jornal em 5 de agosto de 1953 e as pessoas começaram a doar material para os membros intelectuais”, menciona o secretário-geral do IHPF, Djovan Carvalho. De documentos escritos a próprio punho, como o livro do copiador oficial da Câmara Municipal de Passo Fundo, aberto em 1957, à coleção particular do desembargador Gabriel Pereira Borges Fortes, o Instituto abriga espólios que colaboram ao entendimento sobre a constituição da imprensa gaúcha e nacional. Segundo Carvalho, no acervo é possível encontrar jornais farroupilhas e Imperiais, sendo o mais antigo, de 1822, documento oficial de comunicação da Corte Imperial. “Essa biblioteca começa com o bisavô do Gabriel e vai se perpetuando durante as gerações. Os exemplares que temos aqui foram cedidos pela família, que esteve visitando o Instituto”, explica.


Nas páginas amareladas, conservadas a partir do trabalho de restauro, o conhecimento se mantém preservado por uma instituição que possui tanta história quanto a que abriga. De passagens de lideranças políticas em Passo Fundo, como o carazinhense Leonel Brizola, à transferência, ainda que por um dia, da capital da República Rio-Grandense para a cidade, o Instituto Histórico de Passo Fundo recebe pesquisadores e leva à comunidade projetos, como o Museu a Céu Aberto, que permitem à cultura histórica uma pulsação pelas ruas que já serviram de caminho para as tropas viajantes. “Você não faz uma liderança sem identidade. Para ter uma identidade, você precisa de história e de memória”, sentencia o presidente do IHPF, Fernando Severo de Miranda.
Ainda que seja comemorado no dia 15 de abril, o aniversário da instituição será celebrado no dia 13 de maio, com a posse dos novos membros. 

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