O silêncio nas madrugadas de terça-feira, no Lar Emiliano Lopes, é quebrado pelo som da massa que, ainda fresca, é jogada de um lado para o outro nos cilindros de panificação. Aos poucos, os pães de leite se moldam conforme a fome de 300 pessoas moradoras dos bairros Parque do Sol, Industrial, Cinquentenário, Valinhos II e Xangri-lá, e de famílias na cidade de Marcelino Ramos. Além do Rio Grande do Sul, a iniciativa se ramificou para outros estados do país e estuda a implementação na capital do Paraguai, através da identificação de localidades em situação de vulnerabilidade social feita por membros da Igreja Assembleia de Deus.
O alimento, entregue semanalmente por voluntários, começou a ser produzido para o consumo no lanche das crianças assistidas pela instituição. O aporte financeiro insuficiente para manter a estrutura em funcionamento, no entanto, serviu de impulso para o início da fabricação em escala industrial. “Fabricamos, em média, 100 pães por dia. Mas, isso varia porque, além de doar, nós os vendemos para conseguir subsidiar o projeto”, conta o coordenador do Lar Emiliano Lopes, Sérgio Augusto de Oliveira.
Sob demanda de venda solicitada por aplicativo de mensagem um dia antes da produção, a iniciativa gestada em Passo Fundo tenta agora diminuir a urgência daqueles que sentem o estômago pesar uma vez ao dia, quando fazem a única refeição que lhes é possível, na cidade de Sobradinho, no Maranhão. A fronteiras diluídas pelos braços que sovam o pão e o estendem às comunidades vulneráveis socialmente unificaram a produção do alimento distribuído nas composições refinada e multigrãos. “Nós vimos a possibilidade social de alimentar pessoas. Quando chegamos ao Maranhão, as pessoas dessa localidade não conheciam esse pão que, para nós, é algo comum”, relata Oliveira com os olhos embargados, após uma pausa na conversa.
De Passo Fundo ao Maranhão, a iniciativa solidária fez escala também na cidade de Araxá, em Minas Gerais. Com os fornos aquecidos, os voluntários mineiros, vinculados à Igreja Assembleia de Deus, reproduzem a receita escrita por Sérgio. “Quem tem fome, tem pressa. A base nacional do projeto, que embora tenha surgido em Passo Fundo, será em Minas Gerais, dentro de 90 dias. Por ser uma questão de logística e porque notamos que, mesmo sendo um estado rico, a pobreza da localidade é outra”, revela.
Comercializado a R$ 10, os pães produzidos por um único padeiro, na cidade-piloto, auxiliam na compra e manutenção dos equipamentos panificadores que, a partir de quinta-feira (2), devem aterrisar em Assunción, capital do Paraguai. “Além do pão, produzimos cucas. Aqui em Passo Fundo, 400kg de farinha são utilizados todo mês nesse pão que é 70% composto por leite. Não colocamos mais água porque o nosso objetivo é nutrir as pessoas que necessitam”, destaca Oliveira.
Na cidade-piloto, além do “Mão na Massa”, o Lar Emiliano Lopes ocupa as noites passo-fundenses, segundo o coordenador, distribuindo alimento a pessoas em situação de rua ou de prostituição através do projeto “Redenção”.