Um dia após a justiça cumprir o mandando de reintegração de posse na casa de Claudiomir Borges, de 37 anos, ele caminhava entre os escombros, achando a identidade da sua filha caída no asfalto. "Vou ter que mandar fazer outra. De novo", lamentou. Na quinta-feira (2), policiais acompanhados de uma oficial de justiça e de máquinas destruíram duas casas vizinhas em uma travessa da Avenida Cruzeiro do Sul, no bairro Jaboticabal, em Passo Fundo. Claudiomir disse que estava em casa. Mas que tão logo viu o pelotão, só pode retirar os móveis e ver uma vida de dois anos e meio ruir. "Não tinha o que fazer. A polícia tava ali e tínhamos que sair. Mas eu comprei aqui. Paguei R$ 2,5 mil. Agora não sei."
O mandado de reintegração de posse foi despachado no dia 13 de março. Claudiomir disse que por duas vezes um oficial de justiça foi ao local, pedindo que a família saísse do espaço, mas que achou "não ser verdade".
Além da família dele - que conta com a esposa que está grávida e uma filha -, o casal Emerson Gonçalves, de 35 anos, e Adriana de Lima da Silva, de 33 anos, também viviam no local, mas em outra casa.
Assim como Claudiomiro, o casal disse que pagou pelo terreno. "Nunca falaram nada. Venderam e nós achamos que era da prefeitura. Mas nós não sabíamos de nada. Nós nem esperávamos. Nem sabia de nada. Quando chegamos estava tudo destruído. E eles estavam tudo lá. E mandaram a gente ir na Secretaria de Habitação para conseguir outro terreno e outra casa porque na rua não iam nos deixar", contou Emerson.
Ele, que trabalha na entrega de panfletos, divide uma renda de R$ l,lmil com a esposa, sendo que ele é responsável por R$ 300 e a esposa R$ 800 (que incluem os benefícios de vale alimentação e transporte) do total. O terreno e a casa, conta, foram adquiridos com economias de anos, sendo que R$ 2,5 mil foram para o pedaço do lote e cerca de R$ 10 mil para a construção da casa.
A mudança foi há dois anos e meio e disse ter sido tomado pela surpresa de chegar do serviço e não encontrar a casa em pé, na quinta-feira. "Arrebentaram o cadeado, tiraram os móveis, mas a metade foi tudo perdido, porque não deu para aproveitar", desabafou. "Agora temos que ficar num lugar separado, estamos privados um do outro. Foi só uma noite. mas vamos ter que ficar por ali, vamos ir pra onde? Por que até ver o que vão resolver pra nós..."
Alternativa rápida
Segundo o secretário de Habitação de Passo Fundo, Paulo Caletti, o terreno diz respeito a uma área particular com processo de reintegração que se estende a mais de ano e que a Secretaria de Habitação não foi informada da ação. "É uma área particular e nós não tínhamos nenhuma informação de que iria ocorrer essa reintegração", pontuou o secretário. "A gente sabe que não existe uma obrigação legal do poder judiciário avisar a Secretaria de Habita ção, só que, nesse caso, como havia criança e uma senhora gestante também, ao meu ver, tinha que ser tomado algumas cautelas preliminares para ser executada."
Na quinta-feira, o casal Emerson e Adriana foram deslocados a um albergue do município e a família de Claudiomiro foi para a casa de um parente próximo. Na tarde de sexta-feira (3), o secretário se reuniu com as famílias para buscar soluções a curto prazo. De acordo com Caletti, serão construídas duas casas de madeira para cada uma das famílias em uma área da prefeitura. As construções devem começar entre segunda (6) e terça-feira (7) da próxima semana. Cada casa deve levar cerca de 30 dias para ficar pronta.
O secretário não apontou o modelo das moradias, pois disse que isso será definido com a arquiteta da prefeitura
"Nós temos todo um cronograma, um programa habitacional, no entanto, como essa situação ocorreu sem previsibilidade nenhuma, nós temos que agir de uma forma urgente para dar um teto a estas famílias, porque a forma como foi conduzido nos impediu de fazer uma previsão para resolver o problema. Agora temos poucas horas para definir um local e construir uma residência para abrigá-los", defendeu o secretário, que aponta que outras 4,2 mil famílias vivem em situação irregular em Passo Fundo.