E a plateia aplaude
Vivemos uma época (quase) inusitada. Ressuscitaram obsoletos fantasmas para assombrar. Fico pasmo, mas ainda assombram. Agora, a situação torna-se preocupante quando há desencontros de decisões. E de patentes. Num jogo de contradições, a tentativa é agradar gregos, troianos e até os mais insensíveis humanos. Um bate, outro ameniza. Um ameaça, outro tranquiliza. Surgem ensaiadas propostas mirabolantes que, no velho estilo ‘se colar colou’, podem ser consolidadas ou abortadas. Há um objetivo em atender muitas demandas, algumas até estapafúrdias, mas nem sempre o alvo é atingido. A conduta é simples. Anuncia-se, sente-se a repercussão e, então, a proposta segue ou é anulada. Sim, o termômetro decide para evitar um clima muito hostil. É claro que as proposições surgem de muitos interesses que vão muito além de onde visualizamos as nossas divisas territoriais. Também existem aquelas retrógradas ambições internas, onde apenas mudam as recicláveis moscas de plantão. O cenário é diferente, mas o enredo é o mesmo de um velho western. Tanto foi falado que, massiva e insistentemente, definiram os intérpretes dos papéis de mocinhos e bandidos. A partir disso a plateia já estava decidida para vaiar ou aplaudir. Mas a história é flexível e, entre mocinhos e bandidos, surgem muitos palhaços para entreter o público. Porém, além de tirarem o foco do principal, também estão acordando a plateia. A palhaçada é bem mais sincera do que o drama proposto. Até porque, nesse picadeiro somos todos palhaços.
Saudades do Brizola
Se o assunto é a escola pública, imediatamente me lembro de Leonel Brizola. Quando governou o Rio Grande do Sul, ele construiu 6.302 escolas. Isso numa época distante, entre 1959 e 1962, quando tecnologia e infraestrutura era um sinônimo de precariedade. Essas escolas propiciaram educação para muitas gerações. Meio século depois, ainda encontramos escolas construídas ou ampliadas naquela época. Sem asfalto, era mais lógico levar um professor para o campo do que 30 crianças enfrentarem o barro para chegar à sala de aula. E nas cidades o desenvolvimento da escola pública também foi enorme. Eu estudei em escolas públicas que foram construídas ou remodeladas no governo Brizola. O resultado dessa obra não foi imediato. Como o ensino é um processo longo, os frutos foram colhidos 10, 20 ou 30 anos depois. Assim, quando ouço falar em desmanche da escola pública, imagino o triste futuro das próximas gerações. Certamente, esse imediatismo não dará frutos, mas não faltará mão de obra barata para a colheita da laranja. Imaginem o que o Brizola diria sobre isso?
Inovações
Desde o começo, venho acompanhando as mudanças no Supermercado Zaffari do Bella Città. No início da remodelação, conversei com o Sérgio Zaffari que explicou sobre a proposta com foco no autoatendimento e alimentos prontos para o consumo. Confesso que considerei a ideia muito arrojada. Mas bastaram alguns dias e o novo molde conquistou a mim e aos passo-fundenses. E as inovações continuam. Na semana passada o setor de panificação e confeitaria ganhou expositores verticais, onde o próprio cliente escolhe e embala o produto. Agora, já habituado à sequência de novidades, entendo melhor a necessidade desta evolução constante. Passo Fundo merece.
Fora da área de cobertura
As calçadas são conhecidas como passeios públicos. Desde pequeno (faz tempo!) aprendi que as pessoas caminham sobre as calçadas. Parece que estou muito velho e ranzinza ou viraram o mundo de ponta cabeça? As calçadas não são mais um passeio público. Agora elas são mercado público. Temos vendedores daquilo que se possa imaginar e atuando das mais inusitadas formas. Não faltam bugigangas nas calçadas e vendedores de passaginhas (é legal?). Agora a nova moda são os pequenos balcões utilizados por empresas de telefonia celular. Até a semana passada havia balcões de uma marca. Agora outra empresa contra-atacou e também colocou seus balcões em plena calçada. Parece que perderam o sinal, pois isso é falta de educação, uma proposta deselegante que desrespeita as pessoas.
Estatística
Da Sexta-feira Santa ao 1º de Maio, em 13 dias os supermercados de Passo Fundo não abriram em três. Nesse período, ficaram fechados em 23% dos dias. Ninguém deve ser obrigado a abrir, mas, ao mesmo tempo, ninguém deveria ser proibido de abrir as portas. Quem quiser abre, quem não quiser fecha. Simples.
Iracélio
Sempre com a van nos trinques, Iracélio fica um tempão sentado no Bar Oásis. Basta alguém falar o nome de uma cidade que ele já se manifesta. “Olha, conheço muito bem o caminho”, diz para iniciar uma oferta de serviço. Depois, fala em ar-condicionado, poltronas confortáveis etc. Muitas vezes dá certo. Se eu fosse o Léo cobraria uma comissão, pois o Oásis virou a vitrine do Iracélio.