Patinetes elétricos ganham adeptos em Passo Fundo

Estabelecimento comercial que vende o produto está sem estoque e vereadores estudam regulamentar meio de transporte no município

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Agente sócio educador Eduardo Gomes Trindade, já economizou cerca de R$ 1 mil em combustível com uso do patineteAgente sócio educador Eduardo Gomes Trindade, já economizou cerca de R$ 1 mil em combustível com uso do patinete
Agente sócio educador Eduardo Gomes Trindade, já economizou cerca de R$ 1 mil em combustível com uso do patinete
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No início do ano, o agente sócio educador do Case de Passo Fundo, Eduardo Gomes Trindade, conduzia sua camionete, uma Hilux 4x4, em direção ao trabalho quando algo lhe prendeu a atenção. "Vi um pai e uma filha andando de patinete em uma ciclovia. A menina, em idade escolar, carregava nas costas uma mochila e os dois pareciam bastante confortáveis com aquele tipo de condução. Achei prático e quis saber mais sobre o assunto", revela.

 

A partir daí, com a ajuda da internet, Eduardo realizou uma ampla pesquisa sobre o uso dos patinentes. "Pesquisei sobre preços e legislação. Depois disso, fui até a Beto Motos para ver de perto como os patinetes funcionavam e, na hora, decidi comprar. Desde então, estou muito contente com essa decisão, pois tenho usado o patinete para ir ao trabalho, ao banco, consultas e para levar meu filho à escola", cita o agente, que acrescenta: "Antes, com a Hillux, eu gastava cerca de R$ 500 por mês em combustível. De março até maio, período em que passei a usar o patinete, minha economia já chegou a mil reais. O patinete, por sua vez, requer apenas que as baterias sejam recarregadas na tomada. Umas três horas de carga e já posso percorrer até 40 km. Na fatura da energia elétrica, não vi nenhum valor além do habitual. O mais importante a destacar, no entanto, é que se trata de um veículo de transporte limpo, que não polui o meio ambiente", destaca.


O meio de transporte vem atraindo cada vez mais adeptos no país. Depois de ganhar espaços nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, a mania começa a chegar em cidades de porte médio, uma delas é Passo Fundo. O uso dos patinetes elétricos começou em 2017 nos Estados Unidos quando a empresa Bird lançou o serviço através de aplicativo. Em seu primeiro ano, ela contabilizou 10 milhões de viagens realizadas. No Brasil, o sistema é oferecido por startups como Yellow, Grin e SCOO. Além de conquistar adeptos locais o uso de patinetes já é tema de debates na Câmara de Vereadores no quesito segurança para usuários.


Sempre atento ao trânsito e aos pedestres, Eduardo percorre, em média, 20 km por dia. A maior parte deles pela ciclovia. "Ando sempre em uma velocidade baixa e respeitando as normas de trânsito. As pessoas costumam me parar por curiosidade e querem saber como funciona. No período da noite, é necessário acender os faróis e, diante de um possível acidente, é só usar o freio, que é a disco. Felizmente, a maioria das ruas de Passo Fundo são planas e isso facilita conduzir pela cidade", afirma.


Vereador propõe legislação
Na Câmara, dos vereadores começam a se envolver com o tema. O vereador Aristeu Dalla Lana, PTB, protocolou projeto esta semana focando nas empresas de compartilhamento de patinentes na cidade, que por ora não estão operando. Dalla Lana diz que a preocupação é com a integridade física das pessoas, por isso a medida vale como alerta também para usuários particulares. De qualquer forma, a proposta em discussão na Câmara determina que empresas que vierem a compartilhar os equipamentos devem oferecer capacete adequado aos usuários e um seguro de vida.


Já o vereador Alex Necker, PCdoB, trabalha na elaboração de uma lei para regulamentar o uso do patinete na cidade, quer seja por aplicativo ou por iniciativa particular. Segundo ele, nos últimos 12 meses, é nítido o quanto esse meio de transporte vem sendo cada vez mais empregado pela população. “Nesse primeiro momento, estamos coletando informações nas cidades que já contam com uma legislação específica e vamos adaptá-la para a nossa realidade local. A ideia é estabelecer regras quanto ao local de circulação e uso de equipamentos de segurança, garantindo que tanto os usuários dos patinetes quanto as demais pessoas que fazem uso das vias tenham segurança” pontua o vereador.


Para tanto, no início da semana, Alex se reuniu com a secretária de planejamento, Ana Paula Wickert, a quem apresentou a ideia e deu início a discussão. Nos próximos dias, ele deve estreitar o diálogo com representantes da Brigada Militar, do setor de fiscalização de trânsito, entre outros. "Antes de levarmos o projeto para discussão na Câmara de Vereadores, vamos ouvir as sugestões da comunidade e dos orgãos ligados ao trânsito. Com a lei aprovada, a medida em que a população for optando por este meio de transporte, já terá uma legislação específica e finalizada", diz.


Serviço de compartilhamento
O secretário municipal de segurança pública, João Darci Gonçalves da Rosa disse que, mesmo sem um estudo detalhado sobre o tema, "apenas uma pequena minoria de pessoas usa o patinete na cidade". Ele também acrescentou que vem acompanhado a ascensão do veículo e também as discussões que cercam seu uso.


"Por ora, não temos nenhuma empresa interessada em disponibilizar o serviço de compartilhamento na cidade. Porém, se esta for uma demanda da população passo-fundense, no futuro, iremos estudar medidas legais para aqueles que desejarem utilizar esse sistema. Sempre de forma segura e respeitando todos que utilizam a via pública", assegura João Darci.


O secretário reitera que o município não tem uma legislação específica que obrigue os usuários a andarem de capacete ou que estabeleça limites de áreas para o tráfego. Sobre acidentes de trânsito envolvendo patinetes elétricos, ele diz que não há registros junto a pasta a qual representa.


Vendas em alta
Em uma concessionária, localizada na Avenida Presidente Vargas, em Passo Fundo, o proprietário Anderson Roberto Machado, passou a revender patinetes elétricos há três anos. Em 2018, a procura começou a ficar mais intensa e, há 15 dias, ele está sem estoque do produto. "A procura é grande. Têm muita gente vindo até nós para tirar dúvidas quanto ao uso e também para comprar. As pessoas comentam que viram na TV ou nas ruas da cidade e querem saber como funciona. Nesse ano, nossas vendas mais que dobraram na comparação com o ano passado. É um cenário que ocorre no Brasil inteiro, pois a marca a qual representamos, a NXF Motors, está sem itens para nos repassar por enquanto, devido a essa procura intensa", observa o empresário, que não soube dizer quando receberá uma nova remessa de patinetes.


"Tendo por base essa demanda e as vantagens que são oferecidas, dá pra entender esse boom dos patinentes em todo o mundo. Apesar de ter um valor um pouco salgado para algumas famílias, estou certo de que essa moda veio para ficar e, cada vez mais, as pessoas irão adquiri-lo", sentencia Anderson.

 

Serviço e compartilhado em grandes centros
O compartilhamento desses veículos é muito simples e funciona em grandes centros urbanos. Com a ajuda de um aplicativo de celular, o usuário localiza onde tem um patinete disponível, vai até ele e faz a liberação. Em seguida, é só subir, dar um impulso com o pé, e seguir viagem. No guidão, de um lado está o acelerador e do outro o freio.


Mais práticos que as bicicletas por que não exigem o esforço físico da pedalada, os patinetes elétricos, também chamados de scooters, têm, ainda, outras vantagens. Uma delas é a questão ambiental já que, por serem recarregáveis, eles não emitem gases poluentes, como os automóveis. A novidade, no entanto, não é unanimidade. Com velocidade máxima de 40 km/h, entre as principais reclamações nas cidades que contam com o sistema, estão os frequentes atropelamentos de pedestres. A discussão tem feito com que os municípios criem legislações específicas para normatizar o uso.


Na capital paulista, por exemplo, o prefeito Bruno Covas, em maio, publicou um decreto estabelecendo que os usuários só podem andar de patinete elétrico por ciclovias, ciclofaixas e ruas cuja velocidade máxima seja de até 40 km/h. Se o usuário estacionar em uma calçada, deve garantir que não obstruiu a circulação de pedestres. Andar sem capacete e acima de 20 km/h também está proibido. Na zona nobre da cidade, usuários pagam R$ 3 para desbloquear o patinete e mais 50 centavos por minuto de uso.


Em Porto Alegre, na última quarta-feira (14), a prefeitura comunicou que irá elaborar uma proposta semelhante a de Covas em um prazo de até 45 dias. Na capital gaúcha, as empresas Grin e Yellow operam com base em um decreto municipal sob a prerrogativa de que o poder público pode testar novas tecnologias que contribuam para soluções inovadoras para a cidade. A estimativa é de que 400 patinetes elétricos estejam circulando na cidade.


No Rio de Janeiro, a circulação de patinetes elétricos foi suspensa na sexta-feira (17) por uma das três empresas que executam o serviço. Sob a justificativa de que a prioridade é a segurança dos usuários, a TemBici, patrocinada pela Petrobras, retirou 500 patinetes de circulação. Além do uso compartilhado através de aplicativos, os patinetes podem ser adquridos pela internet e em lojas do segmento por preços que variam entre R$ 800,00 e R$ 6 mil.

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