O tempo nublado desta quinta-feira (23) não impediu o violinista e artista de rua, Luan Eduardo Cavalheiro Guenze, 26, de mostrar seu talento para aqueles que passaram pela esquina da Avenida Presidente Vargas com a rua Santa Helena, no bairro São Cristóvão. Natural de Curitiba (PR), ele chegou em Passo Fundo há nove dias. Na mala, além de algumas peças de roupa para temperaturas frias, Luan trouxe seu violino e também um amplificador de som. A relação com o instrumento, no entanto, é recente. Foi há pouco menos de dois anos, enquanto andava pelas ruas da capital paranaense, que ele viu na música clássica uma possibilidade de trabalho e renda.
- Lembro de estar andando em um dia comum quando notei que haviam dezenas de artistas de rua tocando vários instrumentos, como flauta, violão e até trombone. Porém, não havia ninguém tocando o violino. Foi aí que pensei "poxa, eu poderia fazer parte disso e tocar violino", recorda.
A partir daí, para compor a grande orquestra das ruas, ele se matriculou em um curso e, durante oito meses, sua dedicação foi intensa. Nesse período, teve acesso as partituras das composições de Johann Sebastian Bach e Ludwig van Beethoven. Os compositores são suas maiores inspirações no dia a dia.
"A música clássica tem grandes obras e algumas delas eu aprendi durante o curso que fiz. Apesar de ainda me considerar um aprendiz, porque o violino é um instrumento bastante complexo e que requer anos de prática, tenho tocado principalmente a Nona Sinfonia de Beethoven e o Minueto 3 de Bach - revela sobre seu repertório.
Viver de arte
Em dias considerados "de bom público", Luan consegue faturar até R$ 80 em 6 horas de trabalho. Para o instrumentista, sábados e domingos são os melhores dias de ganho. "No final de semana as pessoas geralmente estão mais receptivas a ouvir meu som. Acredito que seja porque elas não têm aquele compromisso de ir para o trabalho, então, podem parar e ouvir uma boa música sem preocupação. Durante a semana é diferente, nem todo mundo dá aquela atenção", observa.
Cativadas pela beleza das notas extraídas do instrumento de quatro cordas (Mi, Lá, Ré e Sol), as pessoas dispensam sobre o estojo do violino de Laun moedas e notas de todos valores. Em Passo Fundo, onde não é comum ouvirmos um violinista disputando nossa audição com o barulho de automóveis, ele avalia que "há interesse pela sua música". Entretanto, Luan deve voltar para Curitiba ainda neste final de semana.
- Após ter trabalhado a vida toda como garçom e pedreiro em obras, vi na música uma oportunidade. É algo novo pra mim e sei que se um dia eu quiser chegar a uma grande orquestra, tenho que me dedicar por, no mínimo, três anos. Viajar para fora de Curitiba com o propósito de divulgar meu trabalho também é algo recente. Antes de vir para Passo Fundo, eu havia me arriscado em Mafra (PR) e Joinville - conta.
No Norte gaúcho, o tour de Luan começou por Lagoa Vermelha, seguiu por Erechim e terminou em Passo Fundo. Durante sua estadia na maior cidade da região, ele se hospedou em uma pousada. "Tenho casa alugada em Curitiba, por isso preciso voltar para lá. Gostei de conhecer a região e quem sabe um dia, no futuro, eu volte pra cá", encerra.