Alguns de meus preciosos amigos têm insistido que devo publicar, nem que seja em e-book, coletânea de minhas crônicas. Confesso que tenho resistido a essa tentação pelo simples fato de me perguntar: afinal, o que ainda não foi escrito? Que falta escrever?
Depois, vem outras questões: que temas devem ser abordados? Experiências médicas ou doenças da matéria? Experiências mediúnicas? Referências da infância-adolescência?
Para quem escrever? Para meus filhos? Como escrever? Ademais todos os que compõem ou escrevem têm autocrítica corrosiva sobre a maioria de seus produtos. Ficou uma merda, vou reeditar!!! Então, não se trata de somente publicar porque um cronista não tem obrigação de estilo, como um colunista, por exemplo. O colunista escreve sobre moda, cinema, esporte, sociedade...O cronista tem o tema do momento, aquilo que lhe vem à cabeça e sobre qualquer assunto. São assuntos do momento e como os momentos mudam a crônica fica deslocada muitas vezes. Uma noite de plantão aqui no São Vicente, como exemplo, caía uma chuva serena e, as duas da manhã, quando fui atender intercorrência no posto 7 estava tocando aquelas músicas da madrugada como as de Kleiton e Kledir, como algumas de Milton Nascimento, Tavito, Beto Guedes...Mas, naquela noite tocava Regininha em Teletema – “rumo, estrada turva, sou despedida, por entre lenços brancos de partida, em cada curva, sem ter você vou mais só” e lembrei de Tibério Gaspar (falecido em 2017 e autor de BR 3 e Sá Marina, entre tantas). Tibério escreveu essa letra pensando na namorada que morrera em uma curva de uma estrada qualquer. Ou seja, da dor brotou um hino...dizem que os grandes criadores buscam na alma e no sofrimento a inspiração.
Penso que quem se atreve a publicar deve atingir as pessoas como um soco, um murro e, se possível tocar a sensibilidade até que faça com que a voz do apreciador fique embargada. Arte é para a alma, é para sublimar, é para extradular, é para deixar sem fôlego. Não sei se tenho bagagem para tanto, provavelmente não. Certamente, não.
Tenho resistência em publicar porque estou na fase de aprendizado de tudo, da vida, da paciência, da audição e há muito comungo a ideia de aperfeiçoamento constante ou evolução permanente. Tal qual a Bandeirantes – cada dia melhor que antes – tenho buscado, talvez patologicamente, o melhor Jorge possível, aquele que não almeja superar ninguém a não ser a si mesmo. Jorge de terça deve ser melhor que o da segunda, mas é pior que o da quarta porque o da quarta deverá ser melhor que o da terça. A evolução é fruto de uma revolução interna aquela mesma que nos diz em algum momento da vida que ninguém é, por decreto, melhor do que alguém. E enquanto se aprende a gente lê. Até que uma ameaça ou um tilt faça a gente se despir dos demônios da imobilização e a gente apresente sem vergonhas um nudes da alma.