Quando o carrinho volta vazio

Durante os meses de frio e chuva, a renda dos recicladores cai e falta dinheiro para comprar alimentos. Campanha visa ajudar famílias carentes

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Redução no consumo de refigerante e cervejas reflete na coleta de recicláveisRedução no consumo de refigerante e cervejas reflete na coleta de recicláveis
Redução no consumo de refigerante e cervejas reflete na coleta de recicláveis
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Era por volta das 16h30 de quinta-feira (6), quando Paulo Couto, 53 anos, chegou em casa com o carrinho entulhado de materiais recicláveis. Pela primeira vez na semana conseguiu enchê-lo. O homem, provedor de uma família de três pessoas, havia saído de casa por volta das 6h30. Ainda estava só com o café da manhã quando relatou sua situação à reportagem. Não havia conseguido almoçar.

 

Com a queda nas temperaturas, o consumo de itens como latas e garrafas cai. O tempo chuvoso também atrapalha, deixando os materiais molhados. O esforço para encher o carrinho é muito maior e implica em um aumento de quatro a cinco horas de trabalho por dia. Porém, voltar para casa com o carrinho vazio é sinônimo de queda significativa na renda da família. Para ajudar famílias como a de Paulo,um grupo de voluntário iniciou a campanha Comunidade Sem Fome, para arrecadar alimentos.


No verão, Paulo consegue arrecadar até R$ 700, em uma média de 15 a 20 dias. No inverno, a arrecadação cai para R$ 300, neste mesmo período. É quando começam as dificuldades. Frio, fome e dor. Dificuldades que se somam e aumentam o sofrimento. O frio dificulta o trabalho de empurrar o carrinho. O carrinho é pesado, provoca dores em músculos e articulações. A fome aumenta o frio. “Tem dias que dói todos os nervos [sic]”, resume o homem.


Questionado sobre como faz para manter a família nesses meses de baixas temperaturas, ele explica as prioridades: “feijão, arroz, farinha e azeite. E se sobrar, a gente compra um ossinho de porco para fazer uma misturinha diferente”.


No inverno passado, abriu uma conta em um mercado e acabou recorrendo ao banco para conseguir pagar os débitos. Há quatro anos que Paulo mora, com a esposa e o filho de 26 anos, na ocupação Bela Vista. O filho tem paralisia infantil. Como precisa de auxílio constante, a mulher de Paulo precisa ficar em casa cuidando dele. O auxílio dela vem em situação extremas, quando, por exemplo, o carrinho está muito pesado e o homem não tem mais força para puxá-lo sozinho.


Trabalhador de obras, ele é um dos milhões de brasileiros que vivenciou o pior de uma crise econômica: o desemprego. Sem dinheiro e sem ter como pagar as contas, se uniu aos demais vizinhos no movimento de luta pela moradia. Com a estagnação do setor imobiliário, foi nesse período que começou a trabalhar de reciclador.


Paulo não é o único a passar por isso. Em torno de 60% dos moradores da ocupação Bela Vista são recicladores. Todos eles sofrem com a queda da renda no inverno. Além deles, a fome assola muitas outras do município que não vivem em ocupações. Sensibilizados com a realidade dessas pessoas, neste ano, um grupo de voluntários ligados à Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF) promoverá a campanha Comunidade Sem Fome. O objetivo é arrecadar alimentos e auxiliar pessoas como o Paulo Couto.


A partir da próxima segunda-feira, dia 10 de junho, os interessados podem entregar alimentos na sede do IFIBE. No domingo, haverá um ponto de coleta no ensaio aberto da Toca do Ratão, no Rito Espaço Coletivo. Interessados que não têm como se deslocar, mas desejam ajudar, podem entrar em contato com o Paulo Cesar dos Santos Braga (telefone 99140-0862), a Edivânia Rodrigues (telefone 99613-2948) ou com o Moises da Cruz (telefone 99648-2015). O contato ainda pode ser feito pelas redes sociais, na página: João Passo Fundo. 

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