O chamado veranico de maio já foi, outrora, assunto muito comentado nos pagos rio-grandenses. Na atualidade, por influência dos meteorologistas do centro do País, essa expressão ganhou uma conotação algo diferente da que é e era por nós utilizada. O nosso veranico está estritamente ligado com temperatura. O pessoal do Sudeste e do Centro-Oeste (e também do Nordeste, em menor escala), regiões caracterizadas por possuírem uma estação seca e outra chuvosa, usam a expressão veranico para caracterizar períodos de dias sem chuva na época em que deveria, normalmente, chover naquelas regiões, causando impactos negativos especialmente na atividade agrícola. O objetivo dessas notas e descrever a origem e o uso do termo veranico nos moldes gauchescos.
No Sul do Brasil, a partir do outono começam a entrar massas de ar frio sobre o continente, fazendo que, em algumas ocasiões, as temperaturas atinjam valores relativamente baixos, inclusive com formação e geadas. Acontece que, não raro, sucedendo a esses períodos de temperaturas baixas, observa-se um aumento gradativo da temperatura do ar, caracterizando uma condição de tempo bastante peculiar para a época do ano. Quase sempre predomina céu limpo e ventos fracos, que, com as temperaturas elevadas, constituem um arremedo de verão, embora fora de época. E, certamente, vem daí a denominação popular de veranico (um pequeno verão) para essa particular condição meteorológica.
Apesar de, nas regiões mais altas do Rio Grande do Sul, os primeiros frios do ano, e até as primeiras geadas, acontecerem em abril, é em maio que efetivamente entram massas de ar polar mais intensas, e o frio pode ser sentido em grande parte do Estado. Por isso, acredita-se que, com o aquecimento que ocorre após essas friagens, tenha se popularizado esses períodos como “veranicos de maio”. De qualquer forma, mesmo parecendo estranho, o veranico de maio pode acontecer também nos meses típicos de inverno. Por isso, não é nenhum sinal de loucura, alguém se referir ao veranico de maio, mesmo em pleno junho, julho ou agosto.
Também não somos originais no quesito veranico. Em alguns países europeus são comuns ocorrências similares, e que, por analogia, também acabam sendo chamados de veranicos ou de “Verão de São Martinho”. A referência a São Martinho decorre da sua observação mais freqüente na primeira quinzena de novembro, próximo ao dia consagrado a esse santo (11 de novembro). Para nós, no Hemisfério Sul, essa época do ano na Europa, em termos de estão do ano, corresponderia ao meado de maio.
Nem todo aquecimento que ocorre entre maio e agosto é digno de merecer a denominação de veranico. O médico e meteorologista Floriano Peixoto Machado, no livro “Contribuição ao estudo do clima do Rio Grande do Sul”, publicado em 1950, apresenta alguns índices, gerados com base na série de observações meteorológicas de Porto Alegre, que devem ser considerados na caracterização de um veranico. São eles: (1) temperaturas máximas superiores a 25°C, (2) temperaturas mínimas superiores a 12°C, (3) duração mínima de quatro dias, (4) céu limpo ou com névoa e (5) calmaria ou ventos fracos.
Os tais veranicos sulinos são causados pelo domínio, nos citados meses, de massas de ar oriundas do centro de altas pressões do Atlântico. O Anticiclone do Atlântico, cuja posição média situa-se na latitude de 30° S, é o centro de origem de uma massa de ar tropical (quente e úmida) que invade o estado praticamente durante todo o ano. Todavia, nas outras épocas, em função do ar ambiente se encontrar normalmente aquecido, o seu efeito não é tão perceptível quanto o observado no período entre maio e agosto. A duração da atuação dessas massas sobre o continente, configurando períodos de veranico, tem variado de quatro a sete dias.
Ouso especular que, em anos de El Niño, quando as temperaturas do ar são mais elevadas, os nossos “veranicos de maio” são mais frequentes. Pelo exposto, se nem todo gato é pardo, também não é qualquer “calorzinho”, entre maio e agosto, que pode ser chamado de veranico.