OPINIÃO

O dia em que Pedro morreu

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Feriado, ouvia os hits musicais da minha juventude; entre muitos, o velho Macca (Paul, McCartney) quando ainda tocava com Linda e the Wings. Dessa parceria que durou entre 1981-91 tivemos músicas fantásticas como Another Day, Mull of Kintyre, Silly Loves Songs, Live and Let Die. Uma delas, no entanto, ficou marcada em minha memória por duas razões diferentes: alegria e sensação de êxtase pela beleza da composição e por um momento de tristeza profunda. Refiro-me a My Love, composta em homenagem à esposa Linda em 23.3.73.


No dia 21 de outubro de 1973 morria em Tarumã o mais badalado dos jornalistas esportivos da época, Pedro Carneiro Pereira, narrador esportivo e chefe de esporte da Rádio Guaíba. Era uma espécie de Pedro Ernesto-Galvão Bueno que brilhava num tempo em que outros monstros do rádio habitavam nos nossos cotidianos. Figuras que preenchiam os nossos imaginários do futebol num tempo em que a maioria dos jogos não passava pela TV. Éramos amigos íntimos de Ruy Carlos Ostermann, Lauro Quadros, João Carlos Belmonte, Lasier e Lupi Martins, Armindo Ranzolim, Mendes Ribeiro, Luis Carlos Prates, Joabel Pereira, Elio Fagundes, Milton Jung, Antonio Augusto...Morria no opala comprado de Bird Clemente (SP) que o havia usado para estabelecer recorde brasileiro de velocidade em linha reta.


Naquele domingo bonito de sol, onde o Inter enfrentava o São Paulo no Beira-Rio, com o apito de Arnaldo Cesar Coelho e o Grêmio vencia o Desportiva Ferroviária do Espírito Santo com gol isolado de Tarciso, eu iniciei minha tarde de domingo como rotina de ouvir a partir das 13:30 horas o programa Preliminar da Guaíba, com Antonio Augusto. Meu pai queria dar uma volta com o Simca Chambord recém comprado e eu estava para desligar o rádio quando um repórter interrompeu o programa para chamar o corpo de bombeiros de maneira urgente para Tarumã. Mais tarde, estávamos passeando quando ligamos o rádio na Passo Fundo; Meirelles narrava um jogo do Gaúcho e perguntou ao plantão esportivo se procedia a notícia da morte de Pedro Pereira em acidente no autódromo, conforme o zum-zum da torcida. Imediatamente troquei para a Guaíba e estava tocando músicas clássicas. Depois, desconcertado mudei para a Planalto e estava tocando Paul e My Love.


É extremamente duro para um guri de 16 anos contemplar a morte de pessoas que amamos mesmo sem conhece-las pessoalmente. Naquele dia, em determinado momento do primeiro tempo, o Beira-Rio emudeceu subitamente, a seguir a torcida inteira ficou em pé e aplaudiu longamente. Arnaldo Cesar Coelho teve a percepção de que algo grave acontecera, interrompeu o jogo e ergueu o dedo pedindo um minuto de silêncio. Foi comovente, triste e mágico. Ontem, no lindo dia de sol, veio-me isso. Nada me restou a não ser abrir uma cerveja e dizer: Pedro, um abraço, sentimos tua falta. Arnaldo, obrigado.

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