Professores buscam alternativas para garantir leitura das obras da Jornadinha

Com o atraso na entrega dos livros indicados pela coordenação, educadora da rede municipal pagou do próprio bolso a compra de 30 exemplares. Prazo para que os educandários registrassem as atividades, feitas a partir da leitura dos livros recomendados pela organização da 9ª Jornadinha Nacional de Literatura, encerrou no dia 10 de maio

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Tirei do meu dinheiro porque eu não me conformei, não posso deixar as crianças sem ler", diz professora da escola municipal de ensino fundamental Notre Dame Crédito: Tirei do meu dinheiro porque eu não me conformei, não posso deixar as crianças sem ler", diz professora da escola municipal de ensino fundamental Notre Dame Crédito:
Tirei do meu dinheiro porque eu não me conformei, não posso deixar as crianças sem ler", diz professora da escola municipal de ensino fundamental Notre Dame Crédito:
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Definida como uma oportunidade para que os alunos da rede municipal de ensino leiam e discu­tam livros de autores convidados para a 9ª Jornadinha Nacional de Literatura, que acontecerá de 1° a 4 de outubro, a Pré-Jornadinha tem enfrentado difi­culdades para alcançar seus objetivos. Isto porque, até o momento, as obras indicadas para leitura pela coordenação do evento ainda não chegaram às es­colas municipais de Passo Fundo. Para tentar reali­zar as atividades previstas no caderno de atividades da Pré-Jornadinha, professoras têm adquirido algu­mas das obras com dinheiro do próprio bolso. Em outros casos, são os alunos que pagam pelas cópias dos livros.

 

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental No­tre Dame, a coordenadora, Tânia Fornari, conta que comprou por conta própria mais de 30 exempla­res para emprestá-los aos alunos dos anos iniciais. "Parcelei em quatro vezes de R$ 277. Para os anos finais, alguns livros a escola adquiriu com recursos próprios e outros foram algumas professoras que compraram. Se fôssemos ficar esperando, não daria tempo de ler antes da Jornadinha. Estávamos afoitos para trabalhar e nunca chegava nada. A Prefeitura disse apenas que estava em atraso e que quando chegassem eles entrariam em contato, mas até ago­ra não houve retorno. O município deveria se pre­parar mais, eles já sabiam que haveria a Jornadinha. Tirei do meu dinheiro porque eu não me conformei, não posso deixar as crianças sem ler. É um valor alto para o salário de uma professora, mas o custo-bene­fício vale bem mais", justificou.

 

Apesar dos esforços, os volumes ainda são in­suficientes para atender os mais de 400 alunos da instituição. Por isso, a leitura tem sido feita de maneira conjunta: as turmas são divididas em grupos e, dentro desses grupos, os alunos precisam revezar a leitura para que todos tenham acesso às obras. "No momento, a prioridade é a leitura dos livros, não as atividades. Depois será feito o trabalho, porque não tem como fazer sem a leitura do livro, não teria sen­tido. Também não dá para trabalhar tudo em uma semana só, nas vésperas do evento, até porque não é esse o objetivo. O propósito mesmo é manter acesa a chama da literatura", defendeu Tânia.

 

Situações semelhantes se repetem em diversas outras escolas. Enquanto, em algumas, por falta de recursos, as direções seguem esperando um retorno do Poder Público para dar início à leitura das obras indicadas pela Jornadinha, em outras, o jeito tem sido conseguir o empréstimo de alguns exemplares em escolas e bibliotecas da região. "Eu consegui em­prestado o exemplar de um livro em Gentil e outro em Vila Maria. Nós xerocamos esses exemplares e eu estou trabalhando atividades em cima desses li­vros, mas infelizmente não pude disponibilizar para que os alunos lessem. Sou eu que leio e conto a his­tória para eles", compartilhou a professora da EMEF Escola do Hoje, Jaqueline Borges. Ainda segundo ela, embora a indicação da coordenação do projeto de­termine que sejam trabalhados com os alunos pelos menos quatro autores - sendo uma atividade para cada autor -, isso tem sido viável. "Eu estou fazen­do todas com base no mesmo autor. É o que tivemos acesso".

 

Sem prazo para entrega

Questionado sobre o atraso, o secretário da Edu­cação, Edemilson Brandão, garantiu que a pasta já havia adquirido por meio de licitação, mais de cinco mil volumes para o proje­to, totalizando um investimento de R$ 211 mil, oriundo de verbas do próprio Muni­cípio. No entanto, ele não soube precisar quando esses exemplares - que estavam inicialmente previstos para chegar ainda em abril deste ano - seriam finalmente entregues. "Como a compra é feita por meio de um pregão, podem haver contes­tações no processo. Foi isso que aconte­ceu e gerou atrasos. Houve uma polêmica desnecessária. Questionaram algumas das obras que estavam sendo adquiridas pelo município porque dentro desse pa­cote de compras, além dos livros da Jor­nada, estavam também livros destinados a outros projetos desenvolvidos pela se­cretaria", explicou.

 

Segundo o secretário, o atraso na entre­ga dos livros não seria um problema, visto que não "havia prazo para que as atividades fossem feitas". Na programação da Pré-Jornadinha, no entanto, o calendário estabelecia o dia 10 de maio como prazo final para que as escolas registrassem em ata online a comprovação do cumprimento de uma série de atividades previstas pelo projeto -como, por exemplo, escolher quatro autores e suas respectivas obras (uma obra de cada autor) e, depois, publicar no mínimo uma atividade para cada autor, a partir dos tópicos propostas para cada obra escolhida. Tal etapa era declarada como pré-requisito para que essas escolas pudessem prestigiar a programação da 9ª Jornadinha Nacional de Literatura. Sem os livros, nenhuma das escolas pôde cumprir a data de encerramento para as entregas. Por isso, o prazo foi prorrogado pela organização, sem uma nova data-limite. "Nos falaram para irmos fazendo e postando na plataforma online conforme conseguíssemos", relevou uma das professoras.

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