Uma pastilha de fosfina foi encontrada, na manhã de terça-feira (25), próximo aos sofás no Diretório Acadêmico dos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UPF). O gás é altamente tóxico. A principal suspeita é de que o produto tenha sido colocado por um aluno do curso.
O episódio, classificado pela coordenação do curso como “muito grave”, tornou-se público na quinta-feira (27). Por meio de um comunicado interno direcionado aos acadêmicos, o coordenador do curso de Agronomia, Vilson Antonio Klein, apontou “fortes indícios e depoimentos” que acusam a autoria do fato. “Quando falo que foi alguém da Agronomia é porque nenhuma outra pessoa esteve no DA [Diretório Acadêmico] pela manhã. Vamos envidar todos os esforços para identificar esse sujeito e puni-lo exemplarmente”, declarou no corpo do texto. De acordo com ele, assim que percebida a presença da substância no espaço de uso comum aos estudantes para estudo e descanso, foi feita a remoção e armazenamento da cápsula para comprovar a ocorrência.
“Se a pessoa aspirar durante 1 ou 2h, esse gás pode causar a morte”
A fosfina (PH3) encontrada no diretório acadêmico é utilizada, conforme o engenheiro agrônomo Cláudio Doro, no controle de pragas que infestam as sementes armazenadas. A prática, chamada pelos profissionais da área de expurgo, é aplicada em lotes de sementes ensacadas ou a granel em silos ou armazéns. “É uma pastilha microcapsulada que absorve a umidade do ar e se transforma em gás. Se a pessoa aspirar por cerca de 1 ou 2h, ele causa a morte porque atinge o sistema nervoso central e enrijece os músculos”, explicou.
A utilização desse gás extremamente tóxico e incolor, no Brasil, é balizada pela Norma Regulamentadora 15 (NR 15). No anexo 11, o documento determina que, em ambiente de trabalho, a concentração máxima para a exposição semanal de até 48h não ultrapasse a medida de 0,23 partes por milhão molar. Entre os sintomas de envenenamento por fosfina, segundo Doro, está o vômito e a queda de pressão sanguínea.
Exposição de agressividade
Também na quinta-feira (27), cinco vídeos envolvendo mais de quatro alunos do mesmo curso viralizaram em um aplicativo de mensagens. Nas filmagens, eles aparecem visivelmente alterados e consumindo bebida alcóolica enquanto vandalizam equipamentos domésticos em um espaço que remete a um apartamento. Entre chutes e arremessos dos utensílios elétricos ao chão, um dos envolvidos dança sobre o que parece ser uma lavadoura de louças. Em outro vídeo, um violão é partido ao ser lançado contra o piso do local.
Mesmo sem ter acontecido nas dependências da universidade, a atitude agressiva dos acadêmicos foi descrita pelo coordenador do curso de Agronomia da UPF, Vilson Klein, como “lamentável”. Em um novo comunicado interno direcionado aos estudantes, o professor afirmou ter identificado os envolvidos nos atos de destruição e os responsáveis pelo compartilhamento das filmagens nas redes sociais. “Hoje foi um dia muito triste para a Agronomia da UPF e para mim”, lamentou Klein.
Em nota, a Universidade de Passo Fundo (UPF) afirmou não compactuar com “atos de violência de qualquer natureza” tendo em vista uma “reconhecida trajetória na formação de profissionais qualificados e cidadãos”. No comunicado, a instituição de ensino superior ressalta estar acompanhando o ocorrido e a respercusão das filmagens. A UPF afirmou ainda que “as medidas aplicáveis ao caso estão sendo tomadas”.