Desde que chegou em Passo Fundo, há quatro dias, o andarilho, hippie e vendedor de artesanato, Rafael da Rocha (nome fictício), 33 anos, deparou-se com um frio nunca antes vivenciado. Natural de Minas Gerais, ele tinha o desejo de conhecer o Sul há muito tempo, entretanto, não achava que encontraria um clima tão gelado como o que vem enfrentando. Habituado as temperaturas mais quentes, logo em seu primeiro dia na cidade, ele foi até a prefeitura municipal onde pediu por um local em que pudesse pernoitar.
- Aqui faz muito frio. Não tem como e nem onde se abrigar na rua, então, precisei pedir esse apoio -, conta o caminhante, que já conheceu três países desde que optou pelo estilo de vida longe de sua terra natal, há quatro anos.
De imediato, Rafael foi encaminhado para a Casa de Passagem Madre Teresa de Calcutá. O local é referência no acolhimento emergencial e provisório de pessoas em situação de rua, desabrigados por abandono, migrantes, pessoas sem residência e pessoas em trânsito (transeuntes). Foi através desse último critério que Rafael conseguiu vaga no abrigo. Assim como ele, outros 24 homens e cinco mulheres contam com os serviços disponibilizados pela Casa, totalizando 30 vagas. Nessa época do ano, ocorre superlotação.
- No inverno, devido ao frio, chegamos a nossa lotação máxima, que dobra se comparada ao período mais quente, como o mês de dezembro, por exemplo - explica o coordenador da Casa de Passagem, Eduardo de Mello Camargo. O espaço que conta com dormitórios separados por gênero, também oferece café da manhã, almoço, jantar e ceia. Ao usuário, também é ofertado dois cobertores, travesseiro, toalha de banho e produtos de higiene pessoal, além de orientações da equipe técnica de acordo com a necessidade de cada um. O limite máximo de permanência é de 90 dias, entretanto, os acolhidos costumam permanecer entre 15 e 20 dias. É caso de Rafael, que após esse prazo seguirá para outro destino, ainda não escolhido.
Os demais acolhidos, costumeiramente, são encaminhados pela rede de apoio do município para suas famílias ou outros locais permanentes, conforme suas necessidades. O local também abriga os animais de estimação dos hóspedes. A escolha do dormitório (masculino ou feminino), acontece de acordo com a identidade de gênero de cada pessoa.
- Geralmente, as pessoas chegam até nós por vontade própria ou são encaminhados através do Centro Pop. O único critério é que eles tenham a real necessidade do abrigo. Durante o dia, eles não necessitam permanecer conosco, a não ser que estejam com algum mal estar ou aguardando encaminhamento. Nosso foco é oferecer a pernoite, com entrada às 17h30 - salienta Eduardo.
Além dos dormitórios, a Casa de Passagem tem refeitório, espaço de convivência, cozinha, sala de TV, pátio e banheiros. Os custos são arcados pelo município. A sociedade pode fazer doações de móveis e utensílios. Eles são repassados para aqueles que, ao deixar a Casa, precisam se reorganizar em uma nova moradia. Somente no mês de junho, 87 pessoas pernoitaram no local. Um total de 559 pernoites e 836 atendimentos (almoço, janta e banho).
Rede de apoio
Para o público que mora na rua, Passo Fundo, oferece, ainda, outros dois serviços: o Serviço Especializado em Abordagem Social, que faz a busca ativa nas ruas, localizando e identificando nos espaços públicos pessoas em situação de vulnerabilidade, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h e das 19h às 7h; e o Centro Pop Júlio Rosa, localizado na rua Morom, no bairro Boqueirão, que oferece lanche pela manhã e espaço de convivência onde o usuário pode lavar roupa, tomar banho, participar de oficinas, e ter atendimento com equipe técnica.
- O Centro Pop não é uma casa de acolhimento, mas um espaço de acolhida e atendimento, onde as pessoas podem permanecer durante todo o dia. Quando há necessidade de acolhimento, o direcionamento é feito para a Casa de Passagem - destaca a secretária adjunta de cidadania e assistência social Elenir Chapuis, que também atua como Coordenadora de Proteção Social Especial.
No Centro Pop, são realizados em média 300 atendimentos mensais. Entre eles, encaminhamentos para o serviço de saúde, para a própria casa do usuário e retorno para cidade de origem através de passagem.
- É importante destacar que os serviços compreendem, mas não compactuam com ações que visem manter as pessoas em situação de rua, tendo em vista as diversas possibilidades que a política de assistência social oferta. A assistência social trabalha de forma propositiva, vislumbrando sempre a superação das fragilidades, o fortalecimento dos vínculos, a autossuficiência, e a potencialidade da pessoa - encerra Elenir.
Outras ações
A exemplo de anos anteriores, em 2019, A Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SEMCAS) está promovendo a campanha do agasalho. As doações de roupas e cobertores estão sendo aceitas na própria secretaria, na rua Morom, 2022, no Boqueirão. A entrega é feita com base na indicação das equipes que trabalham nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). As pessoas que tenham a necessidade podem procurar a SEMCAS. Nesse ano, não estão previstas ações de entrega de sopa.