A queda acentuada nas temperaturas, associada à intensa formação de geada nos últimos dias, tem preocupado agricultores gaúchos. Na maior parte das áreas de produção de hortifrutigranjeiros da região, as condições climáticas deixaram um rastro de destruição. Em Passo Fundo, onde os termômetros chegaram a marcar temperatura mínima de -4°C na madrugada de domingo, os reflexos das geadas já começam a ser percebidos nas feiras de pequenos produtores. “O pessoal já está com falta de verduras para venda. O que estava no campo ou pouco protegido com plasticultura ficou, praticamente, todo queimado. Ficou tudo estragado, amarelado”, lamenta o presidente da Feira do Produtor, Mércio Michel.
Depois de cinco dias consecutivos de fortes formações de geada, o cenário é pouco animador. Os danos são observados mesmo em verduras e legumes cultivados dentro de estufas porque, embora auxilie, a proteção não é completamente efetiva contra o congelamento dos tecidos e líquidos internos das plantas, o que acaba causando a morte dessas culturas. Michel estima que plantações de alface, tomate e vagem tenham sido as principais afetadas. “Ficaram danificadas alfaces de todos os tipos. Quem tinha tomate e vagem nas estufas, já em término de produção, perdeu tudo. Também houve um prejuízo muito grande nas verduras que estavam em estágio avançado de crescimento. Só resistiram as plantas menores, porque ainda estavam em crescimento inicial, mas ainda assim foram afetadas. Por exemplo, o que deveria ser colhido em um período de 30 dias, agora vai precisar de duas semanas a mais, porque a terra gelou e a planta não consegue absorver os nutrientes dela. Então, ela demorará mais para ser colhida e ainda terá uma qualidade baixa”.
Já no caso das frutas, os impactos foram menos perceptíveis. Isto porque, nesta época do ano, os produtores da região investem na plantação de frutas cítricas, como a laranja e a bergamota, que tendem a ser mais resistentes ao frio. “Pode haver a queda nessa semana das frutas que estavam na ponta das árvores. Elas congelaram com o frio e depois tiveram contato com o sol, então dá um choque térmico. No restante, não fez nada, porque elas estão mais baixas e, portanto, as folhas deixam elas protegidas do contato direto com o sol e a geada. Por mais que elas tenham resfriado com esse tempo, não chegaram a congelar”, esclarece.
Elevação nos preços
As condições climáticas, responsáveis pela queda na produção de hortifrutigranjeiros, também poderá gerar reflexos no preço dos produtos. Na opinião do presidente da Feira do Produtor, no entanto, a elevação deve se restringir aos produtos importados. “Acredito que na nossa feira não terá uma diferença muito grande. Nós sempre orientamos que os nossos produtores não alterem o preço porque isso não soluciona nada. O produto já está com a qualidade baixa por causa do frio e da geada, se você deixar mais caro para o consumidor diário a venda fica ainda mais difícil. O que tem maior possibilidade de aumentar é o valor dos produtos que vêm de outros estados, como o tomate, que é uma cultura muito sensível e que foi atingida pela geada no centro do Brasil”, antecipa.
Temperaturas voltam a ficar amenas
Na previsão estendida do Instituto Nacional de Meteorologia (INMet), a expectativa é de que o último episódio de geada do mês seja registrado no amanhecer desta terça-feira (9). Depois disso, de acordo com o observador meteorológico da Embrapa Trigo, Ivegndonei Sampaio, a tendência é que as temperaturas entrem em elevação gradativa. Nesta terça-feira, elas ficam entre 4°C e 20°C. Na quarta, devem girar entre 7°C e 22°C. Na quinta, a mínima prevista é de 10°C e a máxima de 23°C. Já na sexta-feira, ainda em elevação, a máxima pode chegar a 24°C. Até o momento, não há previsão de novas ondas intensas de frio ao longo de julho. A chuva, por outro lado, pode retornar ao Estado no fim de semana.