Por esta José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira, que deixou o legado de excelência, junto à formação de profissionais com atuação em embaixadas brasileiras, não esperava: um presidente da república indicar o filho para ser embaixador nos Estados Unidos. E por quê? Porque é o seu filho, o seu garoto...
Para ser diplomata, no Brasil, é necessário que o cidadão seja admitido no Instituto Rio Branco (sim, Rio Branco, patrono da diplomacia... Ele mesmo). Essa admissão é dificílima pela complexidade das provas e pelo grande número de candidatos, mas é a porta de entrada para a carreira diplomática.
A diplomacia é uma carreira que inicia com a função terceiro-secretário, depois segundo-secretário, primeiro-secretário, conselheiro, ministro de segunda-classe até, enfim, chegar à condição de ministro de primeira-classe, que é, então, embaixador.
Os temas que integram a formação de um embaixador abrangem, dentre outros, cerimonial e protocolo, desenvolvimento sustentável, diplomacia consular, diplomacia e promoção comercial, direito internacional público, direitos humanos e temas sociais, Economia, história da américa do sul e da diplomacia brasileira, linguagem diplomática, planejamento diplomático, organizações políticas internacionais, técnicas de negociação, organizações econômicas internacionais e contencioso, línguas como árabe, chinês, russo, espanhol, francês e inglês, política internacional e política externa brasileira... Não é pouca coisa!
Somente após os dois primeiros anos de formação contínua e em tempo integral, inclusive com estágio no Ministério das Relações Exteriores para acompanhar e entender acontecimentos políticos, econômicos e sociais em determinada região do mundo, as negociações internacionais e multilaterais que o Brasil participa com outros países e blocos econômicos, o atendimento de cidadãos brasileiros no exterior e suas respectivas proteções, além da gestão administrativa e operacional de embaixadas é que o terceiro-secretário é indicado para ocupar postos no exterior, sendo que a primeira lotação é definida pela sua colocação no exame de admissão.
Mas... O presidente Bolsonaro entende que o filho Eduardo é o mais indicado para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos porque “ele é amigo dos filhos do Donald Trump, fala inglês e espanhol, tem uma vivência muito grande do mundo”. Ser amigo do Trump... Vivência pelo mundo... Falar inglês e espanhol... E o mais curioso: Bolsonaro diz estar “perplexo” com os senadores por reagirem a esta indicação.
O filho Eduardo, por sua vez, comenta estar tranquilo para atender o pedido do pai, pois fez intercâmbio nos Estados Unidos, onde aprendeu, dentre outras coisas, a “fritar hambúrguer”. Diz que fala inglês e espanhol, que é o deputado federal mais votado da história do Brasil e que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
Ah, e aquela história de carreira diplomática, falar árabe, russo, chinês, francês, além de inglês e espanhol, ser admitido no Instituto Rio Branco, desenvolver-se na carreira, estudar, formar-se na diplomacia internacional... Isso vale para os outros... Não é o caso do filho do presidente... O Brasil não precisava disso! A expectativa é que o Senado tenha a responsabilidade que, neste caso, o presidente não teve, e não aprove esta indicação.
André Leandro Barbi de Souza
Sócio-diretor do IGAM, advogado com especialização em direito político, sócio do escritório Brack e Barbi Advogados Associados