OPINIÃO

Não, não é brincadeira, Sr. Feynmam!

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Não, não é brincadeira, Sr. Feynmam!

Richard P. Feynman (1918-1988) notabilizou-se como cientista, agraciado com o Nobel de Física de 1965, e como professor. Estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e em Princeton. Trabalhou no Projeto Manhattan (programa de pesquisa e desenvolvimento, liderado pelos EUA, que culminou na construção das primeiras bombas atômicas usadas na Segunda Guerra Mundial), foi professor na Universidade de Cornell e na Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia). Autor das famosas Feynman´s Lectures, as palestras que ele deu em Cornell, e protagonista das histórias relatadas por Ralph Leighton e que se encontram compiladas no livro “Só pode ser brincadeira, Sr. Feynman!”
Feynman era dotado de um senso de humor apurado e tinha o dom de criar mitos sobre si mesmo. Quando estava doente e próximo de morrer costumava receber os visitantes com uma piscadela e a frase “Ainda não estou morto! ” No chá de recepção dos novos alunos da Universidade de Princeton, na casa do decano Eisenhart, ao ouvir a pergunta: - prefere creme ou limão em seu chá, Sr. Feynman?
Era a Sra. Eisenhart servindo chá. Segundo conta, respondeu:
- Ambos, por favor. Ao que a velha senhora teria retrucado:
- Isso só pode ser brincadeira, Sr. Feynman!
O grande legado de Richard Feynman foi fazer a ciência, em especial a física, parecer divertida e interessante. Nas suas histórias, que soam fantasiosas as vezes, há verdadeiras aulas sobre como praticar ciência. São coisas que não constam nos manuais de ensino das disciplinas de metodologia científica e que os professores esperam que os estudantes capitem pelos exemplos, quando o mais fácil, possivelmente, seria ter dito explicitamente.
Do livro “Só pode ser brincadeira, Sr. Feynman!”, eu destaco a história “A ciência do culto da carga”, que, em meia dúzia de páginas, lança luzes de como examinar teorias que não funcionam e ciência que não é ciência.
O homem, faz muito tempo, começou a separar as ideias boas das ideias ruins pela experimentação. E assim, de forma simplificada, nascia “o método científico”. O tempo foi passando, a humanidade evoluindo, o conhecimento aumentando e, dizem, estamos vivendo em uma era científica. Será verdade? São tantas as tolices, que vão da terra plana às falácias dos gurus quânticos, merecedoras de crédito por pessoas supostamente bem-educadas, que há margem para a dúvida. Por que isso acontece?
Acontece porque muitas dessas coisas estapafúrdias (ou nem tanto) guardam ares de, aparentemente, terem seguido os preceitos da pesquisa científica. Muitas vezes conclusões equivocadas são tiradas mais por desconhecimento do que necessariamente por má intenção, aos pesquisadores deixarem escapar algo essencial na investigação científica. E é esse essencial em educação científica que se esperaria tivéssemos aprendidos na escola, mas, que, efetivamente, muitos de nós não aprendemos, nem mesmo após ter passado por programas universitários de doutoramento.
O essencial, que nos ensina Richard Feynman, é que, em qualquer experimento científico, devem ser levados em conta não apenas o que se acha que está certo, mas tudo aquilo que possa invalidar os resultados. Quais outras causas poderiam explicar os resultados obtidos? Todas foram eliminadas das conclusões, seja nesse ou por meio de outros experimentos? Dilema difícil de equacionar para quem, não raro, está buscando obter resultados positivos em testes de novos produtos; especialmente quando envolvidos interesses econômicos vultosos. O cientista, nesse caso, tem de ter o cuidado de não se autoenganar. Ludibriar a si mesmo, com artifícios do método e análises estatísticas supostamente robustas, é mais fácil do que enganar os outros; pois resultados experimentais que não possam ser repetidos não podem ser chamados de científicos. E não se trata aqui apenas de desonestidade. Mas, acima de tudo, de integridade científica em não cair na tentação de transmitir a implicação e não o fato.
Não, ciência não é brincadeira, obrigado Sr. Feynman!

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