OPINIÃO

O melhor cinema do mundo

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O Brasil escolheu na semana que passou seu representante oficial ao Oscar.  Quem vai tentar trazer o  prêmio de Melhor Filme Estrangeiro em março do ano que vem será “A Vida Invisível” dirigido por Karim Aïnouz e estrelado por Carol Duarte e Julia Stockler. O longa de Aïnouz É baseado no livro A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, da escritora pernambucana Martha Batalha. Não vi o filme – obviamente ele não chegou ao circuito de exibição de Passo Fundo, assim como o outro forte candidato, “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho, também não deu as caras por aqui. “Bacurau” ganhou prêmio especial em Cannes e é essencialmente um filme de gênero, uma mescla de temas do western com filmes de ação fortemente inspirados no cinema de John Carpenter. Para nós, algo novo. Para a academia, seria mais um filme de gênero, por melhor que fosse, algo que a Academia não costuma premiar com frequência. Já o filme de Aïnouz ganhou o prestigiado prêmio Un Certain Regard (Um certo olhar), um dos mais prestigiados de Cannes. É um forte candidato, algo que o Brasil não costuma ter, graças também à formação de uma comissão de seleção mais heterogênea e menos política. 

Mas não vai ser fácil para Aïnouz. Assisti nessa semana o grande concorrente do longa brasileiro, “Parasita” (Parasite) de Bong Joon Ho, vencedor da Palma de Ouro na última edição de Cannes. Joon Ho é um cineasta já conhecido pelos cinéfilos ocidentais. Dirigiu uma obra-prima chamada “Memórias de um Assassino”, o cultuado “O Hospedeiro” e o superestimado “Okja” para a Netflix. É um dos mais reconhecidos cineastas do cinema sul coreano, que é também, hoje, um dos melhores do mundo.

O brasileiro tem resistência ao cinema estrangeiro que não seja de Hollywood, que não traga a marca e o ritmo dos blockbusters. O cinema oriental ainda tem muito pouco espaço no circuito brasileiro, seja pelo estilo diferente, seja pelo estranhamento com a linguagem – e também pelo fato do brasileiro não gostar, cada vez mais, de ler, preferindo filmes dublados, o que estraga em muito a experiência original, algo que eu comento em outra coluna quando for oportuno. Mas não é de hoje que os melhores filmes, ano a ano, têm sido filmes produzidos em Hong Kong (filmes de ação de lá são quase imbatíveis e tem inspirado muito o cinema de ação norte-americano) e na Coréia do Sul.  Chan Wook Park, diretor de “Oldboy” e “A Criada”, saiu de lá. Hoong-Jin Na é outro nome especial. Seu “the Wailing” é um  dos grandes filmes de 2017. Do oriente também  vêm Tsui Hark, diretor de filmaços de ação recentes como “Sete Espadas” e “A Tomada da Montanha do Tigre”, ou Hou Hsiao Hsien, de “A Assassina” e “Flores de Xangai”, ambos chineses. Jia Zhang-Ke, chinês, dirigiu “Amor até as Cinzas”, um dos melhores de 2018. “Em chamas”, de Lee Chang-dong e “Assunto de Família”,   Hirokazu Koreeda, japonês, estão entre os melhores do ano passado também.

“Parasita”, grande concorrente do filme brasileiro, é um filme repleto de metáfora para a luta de classes. O parasita do título tanto pode ser a família de trambiqueiros que dá um jeito de se infiltrar como empregados na casa de um milionário para garantir seu sustento, enganando os donos da casa, como também pode ser o próprio milionário e sua família, que o filme deixa claro manter seu estilo de vida à custa de classes mais baixos. O fato é que a dubiedade do título é proposital e casa muito bem com o visual do filme, que contrasta o aperto dos bairros pobres com os grandes ambientes abertos da mansão em que estão os trambiqueiros. Mas o filme de Joo não se detém a isso: reserva uma complicação que muda completamente o ritmo do filme e dos acontecimentos, do lúdico e do humor para o violento e o chocante. Foi uma Palma de Ouro merecida, e um adversário de peso.  O bom é que se o filme brasileiro não levar, pelo menos o prêmio, de novo estará em boas mãos. Se o brasileiro não reconhece, o norte-americano  tem  reconhecido à tempos que o cinema oriental é hoje o melhor do mundo.

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