O pérfido princípio da inferioridade impingida a mulheres e negros fincou raízes no período da escravidão no Brasil e no mundo. A cultura desse mal é mais endêmica e profunda do que se possa avaliar. Em similitude desenvolveu-se o desprezo pelos pobres e pelo trabalhador de baixa renda. Nem vamos falar da exclusão dos miseráveis jogados na desvalia pela prepotência insana de uma sociedade que chamamos de comunidade...moderna! Chama-nos a atenção o julgamento em acórdão proferido pelo TJ/SP que manteve por unanimidade a condenação de um cidadão que agrediu a mulher, ao chegar bêbado em casa. A pena confirmada foi de três anos em regime aberto. A informação retrata o resultado de caso corriqueiro, sem lesões graves, mas de comprovada materialidade. O relator enfatiza que, mesmo parecendo de menor gravidade, as agressões de menos intensidade vinham ocorrendo há mais tempo.
Agressão
A reprimenda legal visa estancar o agravamento da situação que já causava opressão ao filho menor do casal. É caso típico em que o julgador não reconheceu a argumentação da defesa que tentou minimizar o fato atribuindo ao incidente o arrependimento na conta de ocorrência de mera desavença do casal. O magistrado reconhece a necessidade de estancar o procedimento do marido, alertando que ele fatalmente iria recrudescer os ataques caso não fosse punido, inclusive com a tendência de feminicídio. O que se revela no caso é o injustificável desrespeito no cotidiano brasileiro contra a mulher, flagrante em horríveis estatísticas de violência. É o mal de raiz, que chamamos de cultura machista e que se manifesta pela mentalidade cruelmente ativada na escravidão. É o desprezo ao ser humano, cultivado pela ordem oficial do estado durante séculos. O abismo da prepotência foi facilitado contra a mulher, que também foi considerada ser inferior, dominada, como se fazia na escravidão. Assim, temos hoje a mulher - branca ou negra - em chocante frequência, considerada inferior, sem a liberdade na sua integridade física e psíquica. Punição tem urgente significado pedagógico como justiça social.
Pátria livre
A contagem do tempo denuncia a abominável contradição histórica do Brasil, proclamado independente em 1822. Somente em 1888 foi assinada a Lei Áurea, o fim da escravidão legal. Os que mais trabalharam para construção do Brasil, só foram reconhecidos livres (e ainda estigmatizados), meio século depois.
Lanceiros Negros
Graças à insistência de historiadores comprometidos com a verdade, aos poucos vem à tona o dantesco episódio da chacina de Porongos. Os Lanceiros Negros, soldados negros que avançavam pés descalços, sem arma de fogo, peitos nus, foram os grandes heróis farrapos. Recentemente ouvi na imprensa uma versão reducionista revoltante, afirmando que a chacina dos lanceiros negros foi episódio fora da Guerra dos Farrapos. Quanta hipocrisia contra os heróis que lutaram na utopia da liberdade. Foi fora de qualquer honra entre a liderança da República do Piratini. Bento, Gomes Jardim e David Canabarro eram escravistas e entregaram o sangue dos guerreiros negros em 14 de novembro de 1844. Temos que repetir: revoltante!
Tradição
É preciso enfatizar a importância dos movimentos de arte e cultura de nossas tradições. Os costumes do gaúcho na lida campeira reforçam valores do trabalho e solidariedade. As máculas que revela a história da guerra não ofende o folclore, com suas marcas de cultura e tradição. A identidade gaúcha é rica na força telúrica e sadio idealismo.
Fuga de cérebros
O contingenciamento de recursos para a pesquisa atinge severamente nosso estado. Salvo casos pontuais que merecem ação fiscalizadora, a ciência é essencial. É temerária a redução de recursos orçamentários para institutos federais que garantem a evolução tecnológica indispensável à nossa liberdade. E já estamos perdendo cérebros que desenvolvem a ciência.
Fundo eleitoral
O aumento do fundo eleitoral, que reserva mais de três bilhões para financiar eleições, é injustificável no momento de crise financeira do país.