A história testemunha que São Jerônimo (340-420), festejado na Igreja no dia 30 de setembro, tinha uma personalidade forte. Causava simultaneamente admiração e suscitava polêmicas. Agraciado com muitos dons naturais, teve a oportunidade de desenvolvê-los. Foi batizado com 25 anos e aos 38 foi ordenado sacerdote. Dominava várias áreas do conhecimento e várias línguas. O papa na época o encarregou de traduzir a Bíblia para o latim, revendo traduções já existentes e fazendo novas. Dedicou mais da metade da sua vida nesta missão de traduzir e comentar a Bíblia. Inspirando-se nele a Igreja Católica dedica o mês de setembro para incentivar os fiéis à leitura, estudo e oração dos textos sagrados.
O evangelista Lucas registra que Jesus foi à Sinagoga de Nazaré onde leu as Escrituras e registra a reação dos ouvintes: “Os olhos de todos estavam fixos nele. Todos lhe davam testemunho, admirando as palavras cheias de graça que saiam de sua boca” (Lc 4,20.22) São Mateus diz: “Depois que Jesus concluiu essas palavras, as multidões ficaram maravilhadas com seu ensinamento. Com efeito, ele ensinava como quem tem autoridade” (Mt 7,28-29). São Marcos escreve: “Jesus entrou na Sinagoga e ensinava. Ficaram maravilhados com seu ensinamento, pois ele ensina como que tem autoridade” (Mc 1,21-22).
Três evangelistas registram que os ensinamentos de Jesus Cristo causavam nos ouvintes admiração e maravilhamento. Além de reconhecerem que eram ditas com autoridade. Se a reação dos primeiros ouvintes foi esta, torna-se o paradigma de escuta e reação para os fiéis de hoje. Além de aceitá-la como uma palavra proferida por quem tem autoridade.
Pelo fato ouvir repetidas vezes a mesma passagem bíblica, ela pode ressoar como se fosse algo requentado, gerando indiferença e distração. Porém é bom lembrar que nenhum dia da vida se repete e cada vez que se escuta a mesma Palavra Deus algo de novo já aconteceu na vida. Por isso cada escuta é única e irrepetível. “Toda manhã ele me desperta e abre meus ouvidos para que eu ouça como um discípulo” (Isaías 50,4). Admirar-se sempre, é uma postura de quem se reconhece necessitado de ser ensinado permanentemente.
A presença onipresente das diferentes mídias oferece um imenso número de informações e orientações. Todos os momentos têm pessoas dando orientações, interpretando fatos, apontando rumos. Se tudo isso for levado a sério ninguém saberia por onde andar, pois é impossível discernir sobre tudo. Nesta infinidade de caminhos, os cristãos não estão perdidos. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para minhas veredas” (Sl 119,105). Esta lâmpada que emite luz pode ser entendida de dois modos complementares. Como lâmpada fixa, é visível, mas não se move. O segundo modo de entendimento é como “tocha”, “lanterna” que se move, que aponta o caminho na escuridão, que caminha junto apontando para frente. Ilumina cada passo, metro a metro a ser andado e em cada situação. Maravilhar-se e admirar-se da Palavra de Deus porque é luz.
Uma das armadilhas do inimigo é a mentira. Frequentemente pessoas caem no golpe do “bilhete premiado” ou outros similares. Quem aplica o golpe o faz de forma envolvente, ludibriosa enfim, de tal forma que parece ser verdade. E quem é enganado só se dá conta depois. A Palavra de Deus não é assim. Ela é muito direta e clara: amar, perdoar sempre, carregar a cruz, perdoar inimigos, repartir o pão, justiça, carregar a cruz. Muitas vezes, palavras duras de ouvir, de aceitar e, principalmente para serem vividas. Como são palavras de Deus ditas com autoridade, merecem admiração porque são verdadeiras.