Teletema é um livro de Guilherme Bryan e Vincent Villari que adquiri em 2015 e que versa sobre a história da música popular através da teledramaturgia brasileira entre os anos 1964-1989 (Volume I). É leitura deliciosa que disseca as músicas e músicos da época, comentários e informações importantes das trilhas nacionais e internacionais das novelas e minisséries que embalaram a juventude e amores-paixões de muita gente, inclusive a minha. Hoje, quarta, lembrei de Mamy Blue, música cantada por Ricky Shayne, cantor egípcio que emplacou hits cantados em alemão e esta, em inglês. Trata-se do lamento de um cara de 21 anos à morte e o extremo vazio deixado pela morte da mãe. Mamy Blue foi encaixada na novela Bandeira 2 que teve outros hits marcantes como aqueles fonogramas cedidos pela Top Tape-Motown como: Got To Be There (do primeiro álbum solo de Michael Jackson), o novato Stevie Wonder, The Supremes (ainda com Diana Ross), Mireille Mathieu com Acopolis Adieu. A trilha brasileira organizada por Nonato Buzar tem como destaque o samba-enredo Martin Cererê (vem cá Brasil deixa eu ler a sua mão, menino / que grande destino reservaram pra você) da Imperatriz Leopoldinense, até então uma pequena escola de samba de Ramos, música de Zé Catimba, personagem introduzido na novela e interpretado por Grande Otelo; tem Desacato de Antônio Carlos-Jocafi, tem Maysa...É uma das poucas novelas da época que não teve músicas encomendadas pelos irmãos Ângela-Paulo Sergio-Marcos Valle. Era o começo da Som Livre e que foi fundada e comandada por muito tempo por João Araújo (pai de Cazuza), depois de ter trabalhado na Copacabana Discos, Odeon, Philips, contratando na época Gal, Caetano e Jorge Ben.
Este livro foi adquirido por duas razões: pela curiosidade musical e pela associação de minha vida com a música, principalmente pelas que embalaram nossas vidas. Mas, confesso, que a principal razão foi a de permitir que, ao ler os enredos das novelas fosse-me permitido a aproximação com minha falecida mãe, que acompanhava as novelas com muita ternura, ao lado de minha irmã. Sinto-me perto da pele, como se lêssemos e relembrássemos juntos.
Mamy Blue tem o histórico da falta da mãe, mas foi encaixada como tema de par romântico (nada a ver) e lembrei dela nessa data triste onde uma mãe morre em acidente de trânsito deixando filhos de 8 anos. Entristecido, mesmo sem ter qualquer convivência com as vítimas, pensei nos vazios das partidas; partidas, muitas vezes, sem despedidas. Fez lembrar que devemos estar sempre de malas prontas, sem ranços, sem dívidas pessoais, sem que se tenha necessidade de pedir desculpas a ninguém. Fez –me concluir, ainda uma vez, que temos mais necessidades dos filhos do que aparentemente deles para nós.