Aproximadamente três dias depois de ser instalado às margens da BR-285, na rua de acesso à Universidade de Passo Fundo (UPF), um outdoor patrocinado pelo Coletivo Democracia Mais à Esquerda foi alvo de vandalismo durante a madrugada de terça-feira (17). De acordo com os integrantes do grupo, o objeto, que carregava os dizeres “Justiça não se faz com mentiras. Moro mente! #LulaLivre”, havia sido colocado no local no último sábado, no entanto, na manhã de ontem, amanheceu completamente destruído. Um boletim de ocorrência acerca do caso deve ser registrado pelo coletivo nesta quarta-feira. Eles pretendem solicitar, também, o acesso às imagens de câmeras de segurança existentes nas proximidades a fim de identificar e responsabilizar os autores.
Embora, neste episódio, a ação contra a mensagem exposta tenha sido expressa de maneira mais violenta, essa não é a primeira vez que o coletivo sofre o que descreve como um “ataque à livre expressão”. Na última semana, outro outdoor – também patrocinado através de uma contribuição espontânea dos mais de cem membros do Coletivo Democracia Mais à Esquerda –, exibindo a mesma imagem, precisou ser retirado da Avenida Sete de Setembro. Em um manifesto publicado nas redes sociais como forma de repúdio ao ocorrido, o coletivo expõe: “A censura chegou em Passo Fundo! O outdoor patrocinado pelo Coletivo Democracia Mais à Esquerda, foi, de forma sorrateira e velada, censurado. A empresa que produziu a peça publicitária e que aluga o espaço onde ela estava exposta desde o dia 06/09/2019, na Avenida Sete de Setembro, ao lado de uma loja, foi obrigada pelo dono do espaço para que a removesse, sob a ameaça de que se não o fizesse, ele mesmo o faria. Solidários à empresa de mídia, que labuta nesse meio econômico e que por certo sofreria também ela represálias, concordamos em realocar o outdoor para outro local”.
De acordo com um dos integrantes, que prefere não se identificar, a justificativa dada pelo empresário para a remoção da peça foi de que ele estaria sofrendo uma pressão do poder econômico passo-fundense. “Nós entendemos que isso é uma violação do contrato e certamente não poder haver ingerência. Quando você loca seu terreno, você loca para que fique a critério do locatório quais outdoors serão exibidos. Não precisa passar pelo crivo do dono. Se o dono do espaço não estava satisfeito com a mensagem deveria ter procurado as vias legais, recorrendo ao Poder Judiciário. Da forma com que foi feito, entendemos que é uma agressão à democracia e à liberdade de expressão, além de uma violação do direito da empresa publicitária. Nós decidimos não levar adiante naquele momento e aceitamos mudar o outdoor de espaço, porque não queríamos prejudicar a empresa. Mas agora mudou de figura. Esse novo ato, esse vandalismo, nós repudiamos e lamentamos profundamente porque revela a intolerância das pessoas. Certamente, vamos buscar uma reparação”, dispara.
No mesmo manifesto público mencionado anteriormente, o Coletivo Democracia Mais à Esquerda argumenta ainda que a mensagem exibida no outdoor não apresenta tom agressivo e/ou partidário, ao contrário, “faz coro ao clamor por justiça, um dos valores mais básicos de uma sociedade democrática, dado as denúncias que já são de conhecimento público, veiculadas pela série de reportagens do site The Intercept, de que a condenação do Presidente Lula foi maculada pelo conluio havido entre o juiz e a acusação. Questão que, por sua gravidade, encontra-se submetida ao crivo do Supremo Tribunal Federal, para pronunciamento nos próximos dias”. O grupo menciona também os incisos IV e IX do art. 5° da Constituição Federal, que garantem à população, respectivamente, a livre manifestação do pensamento e da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, livres de censura ou licença.
Desta forma, na percepção deles, não haveria justifica plausível e legal para a exigência de retirada do outdoor na Avenida Sete de Setembro, tampouco o ato de vandalismo praticado às margens da BR-285. “As duas posturas são extremamente antidemocráticas. A primeira delas, pedindo a retirada da nossa mensagem, contribuiu para o segundo ato. Já baseadas na primeira postura, essas pessoas aproveitaram que o local para onde movemos o outdoor é um lugar pouco movimentado e com pouca vigilância para, no anonimato, cometer a ação”, opina Maristela Menezes, que também integra o coletivo.