As relações no sistema internacional nunca se fazem sozinhas: o crescimento de um país pode ser visto tanto como oportunidade quanto ameaça. O desenvolvimento de armamentos pode significar guerra em potencial, enquanto assinar acordos e tratados podem fortalecer canais de cooperação.
Definitivamente a interação entre os países tem suas consequências. Agora jogue nessa bagunça internacional duas das maiores economias da atualidade e uma história de afastamento e aproximação. O resultado é complexo.
Podemos usar a Guerra Fria – quando o mundo estava dividido em dois polos, um lado comunista, comandado pela antiga União Soviética, e outro lado capitalista, comandado pelos Estados Unidos -, como ponto de partida para falar da relação histórica entre EUA e China. Em 1949, Mao Tse-Tung, anuncia a criação da República Popular da China, sob regime comunista, portanto, do lado oposto aos Estados Unidos na guerra. É por isso que os EUA, no momento, não reconheceram o novo regime chinês.
Podemos, então, perceber que a história da relação Estados Unidos x China é recheada de tensão e desentendimentos. Mas, houve também, momentos de aproximação, principalmente no governo de Bill Clinton, que decidiu por não apoiar o movimento separatista de Taiwan. Nesse mesmo período chegaram inclusive a um acordo, em novembro de 1999, sobre a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A entrada da China para a OMC foi uma das principais razões pela qual a economia chinesa pulou do nono lugar (em 1975), no ranking mundial, para segundo (em 2001), dois anos após o acordo da OMC, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Toda discussão seguinte, sobre a ameaça da economia chinesa e sobre a dependência econômica entre Estados Unidos e China é consequência desse boom de crescimento econômico do país asiático em tão pouco tempo.
A China, desde a década de 2000, tem investido muito fortemente no Tesouro norte-americano e se tornado uma das maiores exportadoras para a América. Isso, de maneira prática e simples, significa que é muito do dinheiro da China que estabiliza a economia dos EUA, tanto porque empresta dinheiro ao governo em troca de um tipo de remuneração, com juros (através do investimento no Tesouro), quanto porque faz dinheiro entrar no país (com as exportações).
De maneira complementar, é justamente a compra de produtos pelo mercado estadunidense que garante o que chamamos de superávit (altos níveis de exportação) na balança comercial chinesa e a estabiliza como uma das economias que mais exporta. A compra e a venda de produtos são extremamente necessárias, de formas diferentes, para os dois mercados.
E o mais irônico dessa história toda é que foram as próprias potências que, no começo do desenvolvimento de Pequim, se envolveram em uma relação tóxica de dependência. Os EUA tiraram proveito de uma mão de obra de baixo custo e consumo barato, ao mesmo tempo que mandavam suas empresas poluentes para a Ásia. As empresas em território asiático eram oportunidade de emprego ao mesmo tempo que oportunidade de desenvolvimento para um mercado que era novo na economia global. Saldo final e duradouro: nos EUA e China, baixa nos empregos e ataque ao meio ambiente, respectivamente. “Parceria” essa que dura até os dias de hoje, com altos níveis de emissão de carbono e economias dependentes.
Segundo o diretor da escola de investimentos internacionais do Grupo L&S, Liberta Global, Leandro Ruschel, a China não tem interesse nenhum em confrontos, pois seria muito mais afetada em termos de balança comercial (o total de exportações e importações de um país), já que sua economia é basicamente sustentada por exportações, 18% de tudo que a China exporta é comprado pelos EUA. No entanto, jornais chineses já falam sobre prejudicar a hegemonia dos EUA de forma permanente, colocando uma relevância mundial em Pequim como ator central do comércio global e um rival à altura dos EUA – mesmo que essas afirmações tenham um caráter de valorização própria.
A guerra parece não ser uma opção para ambos os países. Mas então, o que fazer? Se continuar no caminho atual, os EUA talvez comecem a perder cada vez mais espaço no cenário. Continuar as retaliações comerciais? Essa também não parece ser a solução, ainda mais se considerarmos a possibilidade de afetar outros países. As relações das duas maiores potências afetam os países do mundo de forma significante e, se pensarmos no ditado africano, “quando os elefantes brigam quem mais sofre é a grama”, aqui, a grama são todos os países do globo assistindo uma briga entre duas das maiores economias da atualidade. A história da relação dual entre EUA e China ainda está longe de acabar.