Aos ouvidos de negacionistas, pseudocientistas e charlatões de variados matizes, deve soar como o grito de guerra criado por Neguinho da Beija-Flor – Olha a Beija-Flor aí, gente! –, sempre que, pelas redes sociais ou nos veículos tradicionais de comunicação, surge alguém contestando o aquecimento global e sua relação com a atividade humana. A mística desse grito de guerra – Olha a Unidos do negacionismo, da pseudociência e de outras charlatanices aí, gente! – incendeia os instintos mais primitivos em muita gente, que, sem o mínimo de criticismo, passa a replicar falas em vídeos, entrevistas, textos, etc. e, quando não, a propor uma verdadeira cruzada messiânica contra quem pensa diferente. Por que isso acontece? Elementar, porque não conseguem distinguir o que É CIÊNCIA do que NÃO É CIÊNCIA.
É importante conhecer a ciência e seus padrões de funcionalidade para entender esse fenômeno. Sim, são categorizações diferentes, embora com traços comuns, negacionistas, pseudocientistas e charlatões. O fraudador na ciência, em geral, sabe como a ciência funciona e aceita os seus padrões, mas, não raro, intencionalmente, não hesita em violá-los para obter os resultados almejados. O caso dos negacionistas e pseudocientistas, é diferente. Eles podem não entender os padrões da ciência ou não entender o suficiente para abandonar as suas crenças. Mas, não se iluda com eles, pois não são tipos inofensivos e apenas folclóricos, como muitas de suas falas podem sugerir. Não raro, são perniciosos, ao defender interesses velados para contradizer a ciência, promover campanhas para minar a compreensão pública da ciência, e, via organizações tipo Think Tanks, financiar pesquisas questionáveis que visam à subversão da credibilidade da ciência. São exemplo públicos, além da negação da mudança do clima global como causada pelo homem, do habito de fumar e câncer de pulmão e do HIV e AIDS, também a insistência em relacionar vacinas infantis e autismo.
Um negacionista recusa-se a acreditar nas evidências ao ter as suas crenças ideológicas confrontadas, especialmente quando estão envolvidas também convicções políticas e religiosas. Os negacionistas preferem ser chamados de céticos. A palavra negacionista carrega a conotação religiosa do episódio retratado nos quatro Evangelhos do Novo Testamento, no qual Pedro negou por três vezes conhecer Jesus. Mas, em essência são negacionistas mesmo, pois não praticam o ceticismo filosófico (dúvida de tudo) e muito menos o ceticismo científico. Baseiam suas conclusões mais na intuição e em assertivas de fé do que em fatos e evidências. Uma teoria científica deve ser testada contra evidências empíricas e não apenas pela razão, como fazem os filósofos, e abandonada quando as evidências não a suportam. Mas, para a desilusão de negacionistas e pseudocientistas, esse ainda não é caso da relação entre mudança do clima global e atividade humana.
Os pseudocientistas atuam sob o manto da ciência, usam seletivamente a dúvida com aparência de ciência, porém sempre com inclinação viciada para promoção das teorias que defendem, na contramão do que deveria ser uma verdadeira atitude científica.
Negacionistas, pseudocientistas e charlatões, no tema mudança do clima global e atividade humana, são, efetivamente, mercadores de dúvida na opinião pública. Esse é o seu negócio: promover a dúvida! Para isso, insistem no surrado mantra, contra todas as evidências, que há dúvida se o clima da Terra está mesmo mudando, que não há consenso sobre o assunto na comunidade científica (Como não há consenso? 97% dos artigos publicados sobre esse tema suportam a hipótese do aquecimento global por causas antropogênicas, segundo Benestad et al., 2015 – Theor. Appl. Climatol. DOI 10.1007/s00704-015-1597-5) e atingem o clímax do nonsense, quando, apoiados em teorias da conspiração, atribuem a mudança do clima a mera companha financiada pelo magnata e filantropo ultraliberal George Soros. Aí o Diabo venceu!