Não são muitas as mulheres que fizeram tanto por merecer o título de femme fatale do século 20 quanto Alma Mahler Gropius Werfel (1879-1964). A coleção de sobrenomes famosos, relacionados aos ex-maridos, que ela fez questão ostentar pela vida afora, é um bom indicativo; embora não suficiente. Inclusive, há quem diga que, mesmo enquanto casada, só Deus sabe as outras paixões vividas por ela, entre as quais se incluem os pintores Gustav Klint e Oskar Kokoschka e o cientista Paul Kammerer.
Alma Schindler foi uma mulher encantadora. Bonita, inteligente, dotada de talento musical, ambiciosa e sensual. Alma casou com o compositor Gustav Mahler, cuja obra dispensa comentários, que, na época dirigia a Ópera de Viena. Em 1910, ainda casada com Mahler, viveu um breve romance com o arquiteto Walter Gropius. A relação veio a publico e o casal fez terapia, nada mais e nada menos, com Sigmund Freud. Que Gustav Mahler procurou Freud é fato. O resto, sobre a prescrição do tratamento freudiano, é lenda. Em meio a turbulências matrimoniais, Gustav Mahler e Alma, foram para os EUA, onde ele foi regente da Orquestra Sinfônica de Nova York. O casal retornou a Viena em 1911. E, em agosto daquele ano, o maestro morreu.
Depois da morte de Mahler, Alma viveu uma tórrida paixão com o pintor Oskar Kokoschka. Foi homenageada pelo artista no seu quadro mais famoso (Die Windsbrautt/A noiva do vento). Na Primeira Guerra Mundial, Kokoschka alistou-se no exército austro-húngaro e partiu para o front de batalha. Alma então se reaproximou do arquiteto Walter Gropius, que ficaria famoso pela criação, na Alemanha, do estilo/escola Bauhaus, um marco na arquitetura e na arte moderna, e como professor de arquitetura em Harvard, nos EUA, onde morreu em 1969. Em 1915, Alma casou-se oficialmente com Gropius e, em 1918, teve um filho que recebeu o sobrenome de Gropius, mas cujo pai verdadeiro, descobriu-se mais tarde, era o escritor austríaco Franz Werfel.
Findo o relacionamento com Gropius, Alma, enfim, casou com a sua grande paixão: o poeta Franz Werfel. Nas suas memórias, Alma fala sobre o quão estranho era o relacionamento com Gropius, pois embora casada com ele, escreveu, em 1917, que “não consigo pensar em nada a não ser em Franz Werfel”. Gropius e Werfel disputaram o amor de Alma. Ela chegou a renunciar a ambos, mas cedeu e ficou com Werfel. O casal, acabaria, fugindo do nazismo (Werfel era judeu), indo para Nova York. Franz Werfel morreu na Califórnia, em 1945, e Alma Mahler Gropius Werfel, em Nova York, em 1964.
Um livro intrigante, “Mein Leben” (Minha Vida), em tom autobiográfico, foi escrito por Alma, em 1957. Indiretamente, esse livro lança luzes sobre o caso da fraude científica dos sapos parteiros/chocadores, protagonizada pelo biólogo Paul Kammerer, que, inclusive, deu motivo ao seu suicídio em 1926. Não por acaso, Paul Kammerer, fez parte do rol de apaixonados e da lista de amantes de Alma Mahler. Segundo relatos dela, que, após a morte de Mahler, trabalhou na Estação de Biologia Experimental de Viena (o Vivarium), onde foi assistente de pesquisa e teve um caso com Paul Kammerer: “Eu fazia registros, mas registros exatos. E isso irritava Kammerer. Registros menos precisos, com resultados positivos, teriam sido mais do agrado dele”. O depoimento de Alma reforça a alegação de outros colegas de Kammerer, caso de Franz Megusar, que, em artigo de 1913, faz referencia a falsificações grosseiras e a não confirmação experimental de dados que eram reportados por Kammerer. O sedutor Paul Kammerer não se deu bem com Alma. Ameaçou cometer suicídio caso Alma o abandonasse. Ela, alegando preocupação com algum desatino da parte dele, encaminhou a carta à esposa de Kammerer.
Sobre si, Alma disse: “ninguém, jamais, vai conseguir me descrever completamente. Nem eu mesma consigo. Eu sou cheia de enigmas sem solução. Um dia dirão sobre mim: ela foi uma esfinge!”. Hoje, diz-se que ela foi uma mulher fatal (uma femme fatale).