Juntar Charles Chaplin, Chapolin Colorado e Michael Jackson em um mesmo espaço, à primeira vista, parece uma tarefa utópica — até porque as luzes já se apagaram para essas figuras icônicas. O legado, no entanto, estava presente em cada peça de figurino vestida pelos estudantes dos ensinos Fundamental e Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Adelino Pereira Simões, na quinta-feira (10), durante o Sarau das Letras.
O projeto cultural, e data fixa no calendário escolar há 9 anos, integra uma tríade de atividades interdisciplinares oportunizadas aos educandos nas áreas fundamentais de conhecimento, como explica a supervisora e professora de Letras, Dirlene Rupollo Grethe. "Desde o primeiro trimestre, trabalhamos com a Área das Humanas, depois com as Ciências da Natureza e Matemática, inclusive com feiras de saúde envolvendo os acadêmicos de duas universidades, e o último é esse. As crianças se inspiram", avalia. Nas duas últimas semanas, como conta, os cerca de 700 estudantes matriculados nas turmas ofertadas para a educação regular mantiveram-se envolvidos em trabalhos de pesquisa, ensaio de peças teatrais e de dança, e confecção das enormes telas que adornavam o palco central para apresentá-las, entre quinta (10) e sexta-feira (11), à comunidade escolar. "Isso faz com que a escola seja única", complementa.
Nessa edição, os traços pesados de maquiagem, coroas e tiaras denunciavam, ainda nos corredores, a temática dos espetáculos. Orientados por "personalidades e personagens que fizeram história", os alunos levaram até a Vila do Chaves para o palco da escola. "É uma maneira de trabalhar, também, aquele aluno que não é bom apenas na Matemática ou no Português, mas ele tem outras habilidades. Nós conseguimos ver alunos no palco, por exemplo, que na sala de aula têm verdadeiras dificuldades. Conseguimos ver verdadeiros artistas ali", observa.
As apresentações protagonizadas por esses estudantes, mostram questões associadas às influências sócio-culturais, embasadas em um trabalho de investigação histórica prévia sobre os personagens escolhidos e contexto no qual ele estava inserido, nos âmbitos econômicos e culturais, inclusive. Releituras de peças teatrais shakespearianas, elaboradas pelos estudantes do terceiro ano do Ensino Fundamental, foram re-escritas com críticas sociais. "A Julieta foi acreditando até o final que ele não seria aquela pessoa. Tem uma figura de preto, que representa a sociedade, e o que ela pode fazer com a cabeça das pessoas. Sobre a mudança que vem acontecendo", menciona, referindo-se ao clássico Romeu e Julieta, encenado sob a perspectiva de um relacionamento abusivo. "A escola tem que olhar esse lado social e humano", destaca a educadora.