Criatividade a serviço de um novo modelo de produção

Em sua 18ª edição, Feira Regional da Economia Solidária reúne uma pequena amostra da biodiversidade gaúcha

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É na beira das estradas que percorre com o marido rumo a Porto Alegre que a artista plástica e professora aposentada Tânia Leite encontra a matéria-prima para a confecção de bonecos. Dando um novo significado ao porongo, fruto tradicionalmente usado na fabricação de cuias de chimarrão, ela cria pequenas figuras de cores vibrantes e estampas diversas em formato de mulheres, homens e até animais. “Eu reaproveito os porongos que seriam descartados por não ter tamanho ou qualidade suficiente pra virar cuia. Como eu sou formada em artes plásticas e já desenhava, depois que me aposentei acabou sendo uma diversão e uma renda complementar”, comenta. Para que os bonecos ganhem vida, Tânia higieniza, corta, lixa e pinta os porongos até transformá-los em pequenas obras de arte, que depois ganham os estandes de feiras ecológicas e sustentáveis, como é o caso da Feira Regional da Economia Solidária (Fresol). Servindo como uma espécie de vitrine para a produção da rede de economia solidária regional, o evento acontece até a noite deste domingo (27), no estacionamento coberto do Passo Fundo Shopping.

Basta dar alguns passos por dentro dos corredores da feira para perceber que o reaproveitamento de materiais, além da utilização de frutos nativos para fins pouco convencionais, não é uma atitude exclusiva de Tânia. Assim como ela, grande parte dos participantes da Fresol carrega como bandeira principal em suas produções a exploração consciente dos recursos naturais e a relação de respeito à natureza, seja para fabricar alimentos, artesanatos e cosméticos ou para oferecer práticas integrativas. Presente no evento pela terceira vez, a rede de lojas curitibana Cativa, por exemplo, é especializada em cosméticos à base de insumos orgânicos, como desodorantes, sabonetes e maquiagens compostos de maneira inteiramente natural. “Nossos produtos são todos veganos e feitos a partir de plantas e frutos brasileiros. Até mesmo nas maquiagens, a coloração é extraída da argila”, explica a representante da empresa, Joana Weissheimer.

É que essa responsabilidade com o meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável, por meio de práticas de produção e consumo conscientes, é justamente um dos pilares da economia solidária – conceito que norteia a feira. Como explica o coordenador do evento, Ademar Marques, em todas as edições os feirantes presentes passam por uma avaliação antes de serem de fato admitidos em um dos estandes. A intenção é garantir que os propósitos da feira não se dispersem do movimento principal: a sustentabilidade, o cooperativismo e a autogestão.

Agricultura familiar

Dentro da proposta de economia solidária, entram também os negócios advindos da agricultura familiar, ou seja, do cultivo de terra realizado e gerido por um pequeno núcleo familiar. No caso de Daniel Prestes, que veio do município de Caiçara para participar pela primeira vez da Fresol, representando a Agroindústria Marlac, ele explica que toda a produção da empresa é mantida por membros da família. “É tudo com o leite produzido nas nossas propriedades. Fabricamos iogurte, manteiga, ricota, doce de leite e cinco tipos de queijo”, comenta enquanto corta alguns pedaços de queijo colonial para que seja degustado pelos transeuntes. O produto em questão, segundo ele, foi premiado em 4° lugar como melhor queijo da Expointer deste ano.

A situação é semelhante à do jovem William Pressi, de apenas 22 anos, que viaja o estado expondo os produtos que ele mesmo fabrica, à frente da empresa que leva o sobrenome da família. Surgida há cerca de sete anos no município de Santo Antônio do Palma, a Família Pressi é uma agroindústria com foco na alimentação orgânica. “Quem criou foi meu tio, mas alguns anos depois eu resolvi assumir o negócio. É tudo certificado como produto orgânico e feito de insumos naturais como laranja, uva, cacau, amendoim e nozes. Agora estou começando a testar também algumas coisas com frutas mais nativas, tipo a goiaba e o butiá”, comenta. E não é somente nas barras de cereais que frutos tão entrelaçados à paisagem e à cultura do Rio Grande do Sul dão as caras. A poucos metros do estande de William, quem passeia pela Fresol pode encontrar ainda comerciantes vendendo sucos à base de butiá e pastéis recheados com pinhão. Um verdadeiro festival de cores e sabores, com entrada gratuita, que pode ser visitado pelo público das 10h às 22h.

 

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