OPINIÃO

Celebração das Exéquias

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O Dia de Finados nos faz recordar todas as pessoas que já morreram. Aquelas que foram mais próximas de nós nos fazem reviver muitos momentos de convivência, de festa, de amizade, de trabalho. Também revivemos os fatos que levaram esta pessoa à morte, o velório e a celebração dos funerais ou das exéquias. São fatos que fazem parte da nossa vida mesmo que sejam duros para reviver. A morte faz parte da vida e é um excelente motivo para se buscar viver bem.


Nos funerais a Igreja celebra o que o cristão confessa na fé e na esperança: “espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”. Este artigo da Profissão de Fé se fundamenta nos ensinamentos de Cristo e na sua morte e ressurreição, em outras palavras no mistério pascal. As exéquias, portanto, tem em vista exprimir o caráter pascal da morte cristã. É anunciada à comunidade reunida a vida eterna, ao mesmo tempo em que é realçado o caráter provisório da vida terrena.


A certeza da ressurreição não arranca do cristão o lado trágico da morte. O próprio Cristo diante do túmulo do amigo Lázaro estremece por dentro, fica agitado e chora. Na véspera de ser crucificado manifesta toda a sua angústia e medo. No alto da cruz sente-se abandonado. Para o cristão a realidade da morte é vencida pela esperança (Romanos 8,18-24). Nas exéquias celebra-se esta ambiguidade do “já e ainda não” da morte de um cristão. Santo Agostinho (354-420) ensinando sobre esta realidade diz que “os corações piedosos podem entristecer-se com uma dor salutar pela morte de seus entes queridos e, por sua condição mortal, podem derramar lágrimas que serão consoladas e diminuídas pela fé (...). São também consolados pelas atenções fraternas que lhes são apresentadas (...).


A celebração das exéquias cristãs tem por finalidade ser presença consoladora e fraterna junto aos familiares dos falecidos e anúncio pascal da ressurreição, sendo que elas são mais úteis aos vivos do que aos mortos. A dor dos familiares enlutados desperta compaixão. Dor que não é possível quantificar, pois tantas vezes é proporcional às circunstâncias que provocaram a morte.
O ritual das exéquias cristãs, além das orações, propõe o uso de símbolos e ritos muito significativos e eficazes para consolar e evangelizar. Por exemplo: a cor roxa dos paramentos litúrgicos expressa a misericórdia; a posição do corpo na igreja: se leigo com o rosto voltado para o altar, se padre ou bispo com o rosto voltado para o povo, pois foi esta a posição durante as celebrações dos sacramentos.


Além de outros símbolos cristãos: O “círio pascal” lembrando o Cristo ressuscitado. A cruz recorda que a morte de Cristo é paradigma da morte do cristão. A bíblia mostra que a Palavra de Deus foi luz para os pés daquele que acaba de chegar no fim de sua peregrinação terrena. A Palavra de Deus, está acima das orações e outros ritos, pois assegura a dimensão pascal. As flores falam dos sentimentos dos familiares, das pessoas amigas do defunto e de todos os enlutados. Expressam participação na dor e no luto e, ao mesmo tempo, indicam esperança de vida. A água benta e sua aspersão lembra o batismo que nos faz entrar na dinâmica pascal e participar da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Assim como no batismo os familiares traçaram o sinal da cruz na fronte da criança, agora todos são convidados a fazer a mesma coisa sobre o corpo do que morreu, enquanto o aspergem. As procissões recordam que todos vivemos como peregrinos nesta terra e que a morte é também uma viagem para a eternidade.

 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
01 de novembro de 2019

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