OPINIÃO

Todos os santos

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A canonização da Ir. Dulce, realizada no dia 13 de outubro de 2019, colocou em pauta o tema da santidade. Santa Dulce dos Pobres, assim passou a ser denominada, soma-se a outros santos recentes, tais como, São João Paulo II, Santa Teresa de Calcutá, Óscar Romero, São Paulo VI, São João XXIII. A maioria da população mundial conheceu estas pessoas em vida, muitas tiveram contatos pessoais ou conviveram ou trabalharam com estes novos santos. Isto é salutar, pois ajuda a compreender o que a Igreja entende por santidade e, consequentemente, quem são os santos.

A Igreja celebra no dia primeiro de novembro, quando domingo ou no domingo seguinte, a solenidade de “Todos os Santos” e no dia dois a “Comemoração de todos os fiéis defuntos” ou finados. Duas liturgias que se encontram e ajudam a responder uma pergunta formulada pelo filósofo Maurice Blondel, em 1893, em sua obra A Ação: “Sim ou não, a vida humana tem um sentido e o homem um destino”? Uma pergunta dirigida a toda humanidade, mas que necessita ser respondida individualmente.

A vida destes santos é uma resposta a esta pergunta existencial. Cada um a seu modo e com as responsabilidades foi dando um sentido e um destino para sua vida. Se o fato da morte é inerente a vida, isto não significa que a vida não tenha um sentido ou o sentido da vida seja o morrer. O modo cristão de pensar é que o sentido da vida é a busca constante da santidade e o destino é a glória eterna.

O Papa Francisco publicou em 19 de março de 2018 a exortação apostólica “Gaudete et Exsultate”, isto é, “Alegrai-vos e exultai” (Mateus 5, 12): sobre o chamado à santidade no mundo atual. É um texto muito provocativo para os cristãos e para todos os que amam a vida. Já no primeiro parágrafo lembra que Deus “quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”.

Quando se analisa a vida dos santos percebe-se claramente que a sua vida não foi medíocre, superficial e indecisa. Por exemplo, Santa Dulce dos Pobres tinha uma saúde frágil, por outro lado teve uma vida de heroína salvando a vida de muitas pessoas. Diante de cada desafio que ia aparecendo teve que tomar medidas. Se o cuidado dos doentes não podia ser embaixo do viaduto, teve que tomar a decisão de transformar o galinheiro em lugar de atendimento. Só quem tem muita determinação e criatividade consegue encontrar estas soluções.

As santas e os santos têm um imenso amor pelo próximo, especialmente os mais pobres e marginalizados. Neste quesito Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres são testemunhas incontestáveis. Não é um amor teórico ou de discurso, mas efetivo. Conseguem com seu testemunho contagiar e envolver outras pessoas. Nascem instituições que vão se firmando e crescendo amplificando o cuidado aos marginalizados. Trabalham além das forças humanas e morrem pobres como os pobres que cuidaram. “As pessoas que espalham amor, não tem tempo, nem disposição para jogar pedras”, dizia Santa Dulce.

Toda dedicação ao próximo se alimentava no amor a Deus e, o mandamento de bíblico de “amar a Deus sobre todas as coisas”, era visível nos atos. O tempo dedicado à oração pessoal e comunitária não podia ser dispensado. Conta-se que um dia foram dizer a Madre Teresa que cada dia vinha mais gente para ser cuidada e que não davam mais conta, ao que respondeu “então vamos tirar mais tempo para rezar”.

Sim, a vida tem um sentido e tem um objetivo que vai ser alcançado, nos atestam os santos.

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