Entre os anos 1999-2000 a SP-TV promoveu um concurso para eleger a música que mais representaria a cidade de São Paulo. Entre as finalistas Trem das Onze (Adoniram Barbosa) e Sampa (do baiano Caetano) ganhou aquela. Em comum têm que nenhuma exalta a cidade. Ao contrário das músicas do Rio Ó Copacabana princesinha do mar, Ó cidade maravilhosa cheia de encantos mil, Ó o Rio de Janeiro fevereiro e março...Alguma coisa acontece no meu coração entre a Ipiranga e a avenida São João (cruzamento movimentado)...mostra perplexidade e perturbação com a grande cidade. Trem das onze mostra um conflito humano entre o distante bairro de Jaçanã para onde tem que voltar (já que mãe não dorme enquanto o filho não voltar) e ficar com a namorada. É drama-comicidade entre duas fidelidades, mãe-namorada, tendo como permeio um trem. O papel central da música é o trem, não é a cidade. Em Sampa, o papel central é a opressão é que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi...e foste um difícil começo...porque és o avesso do avesso do avesso de avesso...(trecho de A Capital da Solidão, Roberto Pompeu de Toledo, Editora Objetiva).
Hoje passei pela Capitão Araújo entre a Sete de Setembro até a Paissandu, atrás do meu Cenav. Mil lembranças destes quase cinquenta anos de vivências...Ali a casa do Subtenente Berbigier (onde sem que ninguém soubesse eu paquerava uma de suas lindas filhas), a casa dos Morbini, a casa dos Ruschel e meu colégio. Ainda me vingarei de quem organizou uma janta alusiva ao meu educandário e a gente nem ficou sabendo. A gente teria ido porque faz parte do coração.
O que é a nossa cidade? Era a terra do Teixeirinha; era a Chicago dos Pampas: era a capital dos buracos, como dizíamos. Depois mudamos para “a mais gaúcha das cidades”, para “terra de gente boa”. Tivemos títulos honoríficos e depreciativos. A cidade é o que é, assentada em concreto e tijolos sobre campos e colinas. Sobre essa pavimentação está o povo em sua organização territorial, bairros e vilas, e sua magnífica história. E a história é o que define um lugar, em outras palavras a gente faz o lugar, a gente faz um país. A nossa cidade não é suja por natureza, a gente suja a cidade, a gente picha monumentos, a gente deixa lixos fora de lugar; não é a cidade que é boa ou ruim, é a gente que a faz assim.
Ao se aproximar o pleito municipal quando escolheremos nossos mandatários de executivo-legislativo seria bom que prestássemos muita atenção nas propostas. O que é Passo Fundo? O que precisamos? Como vamos atingir nossos objetivos? Em quanto tempo. Era a Chicago; não é mais. Agora é terra da cultura, das universidades, da saúde, da construção civil, do futebol, dos espetáculos de teatro e música, dos festivais da cultura e tradicionalismo...não só de gente boa, é terra de coisas boas que, obviamente, pode ser de coisas ótimas. Trafegabilidade, estacionamentos, comercio que não fecha nos fins-de-semana, espaço gastronômico com o sabor da terra, espaços para idosos e crianças...
Que música poderia representar o que a gente é...já que em São Paulo as duas finalistas daquele concurso não souberam expressar? Se a gente não sabe o que é, dificilmente seremos capazes de saber que me queremos ser.
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