Para início de conversa, o que se pode avaliar em torno deste tema parte de fundamentos individualizados pela diversidade do pensamento humano. A dinâmica dos acontecimentos da vida insere componentes implacáveis que incidem na nossa expectativa. As relações de afeto sãos esteios dessa construção que principia na primeira infância. A família ou seu substitutivo é o elo forte, ainda que incerto ou imperfeito. Lembro da revelação feita pela professora, involuntariamente, narrando uma história que, apesar do início angustiante, concluía com o que denominamos “final feliz”. Recordo que corri para casa, em pranto, e fui cair nos braços de minha mãe. Acontece que fui impactado com a revelação no começo da história em que a mãe daquele menino protagonista havia morrido. Era o choque do imponderável, docemente amenizado na conversa com minha mãe. Era inadmissível para meu saber infante, que imaginava e concebia a imortalidade da mãe. Pela primeira vez, o real ou imaginário feliz de criança trazido da convivência com pais e irmãos, as colinas e rios de minha terra natal (Santa Cecília do Sul) - punha-se em cheque. Onde está a felicidade, afinal?
Perdão amplo
Assistindo o debate brilhante na TV Futura, vimos defrontando-se nada menos que Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e Mário Sérgio Cortella. A felicidade foi abordada em diferentes visões. O filósofo Luiz Felipe defende o exercício do perdão como pressuposto de felicidade. E o perdão é amplo. Depende de quem perdoa e de quem é perdoado para sua eficácia. Não é possível procurar felicidade na comparação com a vida alheia. A felicidade, no entanto vem relacionada com a convivência que hoje experimenta formas de comunicação estupendas. E no Brasil, onde a comunicação nunca foi suave, tornou-se campo aberto para um choque de ódios. Antes que se torne cloaca de amargura é preciso o respeito e perdão consequente. O ódio homizia a infelicidade. E a inveja? Esta é mal que ataca de todas as formas. Admitida ou encoberta, vai minando o solo da convivência. Por isso é preciso perdoar a si mesmo, também.
Existe, sim
O poeta Vicente de Carvalho desmistifica o conceito de felicidade, mas esposa a esperança: “Só a leve esperança, em toda vida, disfarça a pena de viver mais nada!..” E este jogo inerente ao viver enseja uma crença: “... essa felicidade que supomos,/ árvore encantada que sonhamos/ toda arreada de dourados pomos,/ existe, sim; mas nós não na alcançamos/ porque está sempre apenas onda a pomos/ e nunca a pomos onde nós estamos!”
Academia
A solenidade da Academia Passo-fundense de Letras em sua sessão de encerramento do ano (em 12-12-2019) reuniu figuras empolgantes de nossa cultura literária. Semblantes responsáveis pela defesa de nossa literatura transmitem uma energia de esperança. São talentos desprendidos e corajosos que mantém viva a chama da arte e cultura, na renitente tarefa de despertar e instigar o saber.
Coral Ricordi
Na mesma sessão da Academia, o Coral Ricordi D’Itália fez sua última apresentação do ano. Foi momento sublime. São três décadas de trabalho, cooperação e aperfeiçoamento na expressão vocal. Cabe salientar a competência pelos próprios dons e enorme doação à causa na liderança de Glaci Bortolini. Preferíamos citar a todos, mas mencionamos a importante revelação musical do mestre David Reginato, a consagrada pianista Márcia Oltramari e a sempre regente Teresinha Borges Fortes. É uma bela história que continua.
Pesquisador de respeito
A renomada revista Nature elegeu o brasileiro Ricardo Galvão entre os dez destaques mundiais, avaliando pelo critério integridade científica. Politicamente foi exonerado da direção do INP pelo presidente Bolsonaro, que não concordou com as avaliações científicas sobre a devastação da Amazônia. Pessoalmente e pelos sabujos pagos com verba pública, ataca pessoas que incorporam instituições muito sérias. Pode não concordar com Greta Thunberg, Paulo Freire, mas o uso de palavras depreciativas não incorpora razões plausíveis, nem inteligência!