OPINIÃO

O cartão de Natal dos Du Bois

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Quem imaginar que a criatividade dos cumprimentos dos festejos de final de ano resume-se aos protocolares “Feliz Natal e Próspero Ano Novo” ou que, nessa época, nos resta apenas a resignação da espera pela volta da Simone cantando a surrada versão da música “Happy Xmas (War Is Over)”, gravada, em 1971, por John Lennon e Yoko Ono, como forma de protesto contra a Guerra do Vietnã, certamente, não recebeu o “cartão” de Natal 2019 dos Du Bois.
Tânia e Pedro Du Bois, casal de passo-fundenses radicado em Balneário Camboriú, mas que mantém estreita vinculação com as atividades culturais locais (presença nas Jornadas de Literatura, nas Feiras do Livro e publicando obras pelo selo editorial do Projeto Passo Fundo Apoio à Cultura, por exemplo), esse ano, inovou, na forma de enviar seus cumprimentos natalinos, por meio da produção de um pequeno livro (16 páginas) com textos de Tânia e poemas e ilustrações de Pedro.
O livro NATAL 2019 abre com a dedicatória “Amigos, desejamos boas festas, com alegria e amor”, e segue, com um breve poema de Pedro, destacando que “a magia do Natal está nas palavras que iluminam nossos corações”, e texto de Tânia que faz uma reflexão sobre o Natal como o tempo dos desejos. Em essência, Tânia e Pedro rememoram natais como um fio que nos conduz a uma outra vida, a uma outra infância, aquela que desejaríamos ter vivido, mas que não necessariamente vivemos. Ainda que Papai Noel não exista, e Tânia e Pedro são sabedores disso, a sua figura de símbolo de bondade e solidariedade, pode ajudar as crianças a lidarem melhor com a realidade por meio da fantasia, uma vez que, antes das significações e dos conceitos, pode despertar o desejo de existir. Os Du Bois são originais ao definirem cartão de Natal como “sinais marcantes na expressão dos sentimentos” e Natal como “encontro entre presentes”.
O cartão de Natal dos Du Bois, felizmente, chegou para mostrar que inovar é sempre possível, mesmo numa temática conservadora como o Natal. O Natal não se resume nem a Simone aos brados “Então, é Natal/ E o que você fez?/ O ano termina/ E nasce outra vez” (...) “Então, é Natal/ Pro enfermo e pro são/ Pro rico e pro pobre/ Num só coração”; e nem aos versos engajados do acadêmico e cordelista Aldemar Paiva, no seu monólogo de Natal, “Não gosto de você, Papai-Noel, também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia... Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humanidade, jogavam pedras nessa fantasia!”. Aldemar Paiva retrata, pela história de um menino pobre que sonhava com o Natal e cujo pai para fazer cumprir o seu sonho havia cometido um desatino, que, enquanto existir pobreza e injustiça no mundo, nenhum homem poderá ser efetivamente feliz.
O ano de 2019 foi prolífico para produção literária de Tânia e Pedro Du Bois. Pedro publicou os livros de poemas “O vendedor de cadeiras e outros poemas” e “Limites e outros exageros e alguns poemas”, e Tânia a coletânea de crônicas “Na sombra dos sentidos”. Todos pelo selo editorial do Projeto Passo Fundo Apoio à Cultura, que reforça o vínculo cultural de Tânia e Pedro com a cidade de Passo Fundo, ao escolherem uma editora local para publicar seus livros.
De Pedro Du Bois, compartilho, do livro “O vendedor de cadeira e outros poemas”, os versos de “O Mascaramento”: “A esterilidade mascarada em filhos gerados no seguimento do nome./ Desmascarado o homem se contempla em não acontecimentos./ Reaparece de forma antagônica e a agonia do recado./ A farta distribuição de balas e biscoitos antes de a porta ser fechada entre máscaras.” E de Tânia, do livro “Na sombra dos sentidos”, um excerto da crônica “Amavisse” (verbo em Latim que significa ter amado): “Acredito que há versões sob medida e, muitas vezes, o fato de haver amado me leva a fantasias como chaves para viver o cotidiano. Sinto a necessidade de fugir das limitações. ”
Eu finalizo com a força da mensagem dos versos da página 9 do livro/cartão de Natal dos Du Bois: “Iluminar as mentes para que a revelação não se perca nas trevas que nos ameaçam! ”. Era isso. Feliz Natal!

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