Não sei de você, mas sei de mim sobre o natal, o nascimento de Jesus, o que foi ungido, o filho do carpinteiro. Não sei de você, mas me bate ume espécie de melancolia que patologicamente pode ser explicada por ausências de pessoas queridas e que nos deixaram, também por rancores das convivências infrutíferas e pelo fato de acharmos sem sentido a simples reunião protocolar comercial para a troca de presentes entre pessoas que muitas vezes não tem significado especial em nossos cotidianos; às vezes até, nenhum significado especial. Há outras razões a contestação da junção de pessoas por algumas horas e as orações que se fazem, todos de mãos dadas, como se a vida coletiva fosse harmoniosa. Balela, muitas vezes, ao invés de lembrarmos do filho do carpinteiro, o que bate e a sensação da sobrevivência ou da vivência do egoísmo escancarado ou velado. Depois de algumas horas e taças voltamos ao status quo como se nada houvera acontecido.
Não sei de você, mas eu fico entristecido quando assisto aqueles filmes americanos sobre o espirito natalino, milagre das descobertas e o brotar da solidariedade. A mensagem da película versa sobre a extrapolação das nossas individualidades, e quando a gente vence a si mesmo e se sublima, por instantes, no encontro de sua essência humana e fraterna ou o que poderia ser de essência, no encontro da solidariedade e humanidade, virtudes que acabaram diluídas nas vicissitudes de nossas vidas.
Sinto-me como se prestasse contas ao filho de José e de Maria, essa gigantesca figura, talvez divina, mas não menos importante. La nos cafundós do mundo, num deserto dominado pelos romanos, o filho de Deus dá ao mundo uma lição de amor, de inabalável fé, mensagem eterna de sublimação. Ao surgir, escancara aos comuns, tudo o que se poderia almejar do homem. O homem, por sua vez, já fez de tudo para se aproximar daquela ideia de vida. Os homens humanizaram Jesus e divinizaram os comuns através das santificações, é santo para todos os lados para todos os gostos. O homem tenta se aproximar, mas ao tentar faze-lo esbarra na pequenez de suas ações, nas próprias limitações autoimpostas. No natal percebemos, através de uma pequena prestação de contas na última semana do ano que, de tudo o que prometemos ser ou fazer, a maioria das intenções ficou no vazio, sem ação, na ilusão, na autoilusão. E nesse pseudoencontro com Ele ou com nós mesmos é que bate a melancolia porque se escancara a diferença entre o ser e o devir, entre o que a gente é e aquilo que poderíamos ter sido. Por instantes olhamos para nos mesmos e ficamos tristes com o que vemos, porque percebemos a pequenez e a inércia. Depois das taças e brindes voltamos ao que somos até o próximo natal quando escreveremos novamente sobre os vazios da existência.