A Liga Independente das Escolas de Samba de Passo Fundo (LIESPF) alugou, nessa quinta-feira (2), um terreno localizado entre as ruas 15 de Novembro e Independência, no Centro do município. O espaço será utilizado para montar e armazenar oito carros alegóricos, que devem desfilar no Carnaval de Rua de Passo Fundo, no dia 29 de fevereiro deste ano. A preparação dos equipamentos está prevista para começar na próxima segunda-feira. A edição deste ano marca a retomada do tradicional desfile carnavalesco em frente ao Parque da Gare, que não era promovido desde 2015, quando a Prefeitura anunciou que não destinaria mais recursos públicos para o desenvolvimento dos enredos.
Segundo o presidente da LIESPF, Felipe Machado, a locação do terreno será viabilizada com recursos do caixa da própria liga. Neste ano, novamente, não serão destinadas verbas da Prefeitura Municipal de Passo Fundo para o Carnaval de Rua. Como apoiador do evento, o Município se comprometeu somente em realizar um chamamento público a fim de apontar uma empresa interessada em explorar a estrutura de arquibancadas e camarotes em frente ao Parque da Gare, viabilizando o retorno do desfile em seu formato tradicional, e a buscar junto com a Liga recursos de empresas privadas. O Município teria sinalizado também, ainda de acordo com Machado, que buscaria um terreno ou pavilhão próprio para ceder à LIESPF de maneira temporária durante a montagem dos carros alegóricos, sem acarretar custos – compromisso que não foi cumprido.
“Não estamos interessados em recursos públicos, queríamos apenas um espaço onde pudéssemos deixar os carros sem ter mais essa despesa, mas já passou um mês do prazo que a Prefeitura havia nos dado e nada. Não dava mais para esperar. Estamos com o material aqui e, para que os carros fiquem legais, precisamos de tempo. Pelo menos, conseguimos um espaço bastante interessante pela logística, porque é perto da Gare, então o carro sai pronto para o desfile, expõe e retorna para o local, sem ficar atrapalhando a via pública”, explica o presidente. De acordo com ele, o dinheiro para pagar o aluguel será arrecadado com uma venda de cachorros-quentes, neste sábado. A expectativa é de vender, pelo menos, R$ 2 mil em lanches.
Orçamento
Conforme Machado, para realizar o desfile, são necessários em torno de R$ 30 mil por escola – neste ano, quatro grupos se apresentam. Os custos incluem gastos como fantasias, instrumentos e carros alegóricos. Ele não soube precisar o quanto foi arrecadado até o momento, mas garante que a LIESPF tem conseguido trabalhar sem dívidas. “Até agora, todas as despesas foram pagas pelo dinheiro que a Liga levantou com a venda de galeto, churrasco, cachorro-quente... As fantasias vêm de fora e já pagamos quatro parcelas, falta só mais uma. Estamos sem dívidas, tudo colocado no papel, não vamos estourar o orçamento”.
Além dos recursos diretos conseguidos através de eventos, os organizadores do Carnaval de Rua esperam arrecadar parte do orçamento através da parceria com a iniciativa privada. “Essas empresas não fariam, necessariamente, uma doação. Elas podem comprar camarotes e inserir as suas marcas. Seria uma visibilidade muito grande para elas. É interessante até pelo fato de o carnaval homenagear Passo Fundo. A Prefeitura disse que nos ajudaria abrindo portas com pelo menos dez grandes empresas, que já fazem parte do cronograma dela, mas até o momento não houve retorno”, conta Machado. Por conta própria, a LIESPF garantiu que visitará empresas de diversos portes a partir da próxima semana, levando a corte de carnaval à caráter para mostrar o trabalho que vem sendo desenvolvido e, quem sabe, convencer os estabelecimentos a contribuírem com a retomada do evento.
Desfile terá tema único
Nesta edição, o tradicional Carnaval de Rua de Passo Fundo deve apresentar algumas mudanças a fim de viabilizar a operacionalidade do evento. Uma delas é que não haverá concurso com avaliação e premiação oficial. Para o desfile, foi definido um tema único, que será dividido entre as quatro escolas de samba participantes, contando a história da formação de Passo Fundo até os dias atuais. A responsabilidade de colocar as escolas na Avenida será do carnavalesco Ramon Gadenz, com a definição do tema "Nossas origens: índio, negro, europeu. Passagens de luta e progresso. Olhos para o futuro!".
O presidente da LIESPF explica que cada escola contará com dois carros alegóricos, três alas, mestre-sala e porta-bandeira. A ideia é que essas escolas desenvolvam as temáticas escolhidas pelo carnavalesco, cada uma com o seu próprio samba-enredo, de acordo com quatro ciclos da história de Passo Fundo. Enquanto a Acadêmicos da Chalaça abrirá o desfile, apresentando os primórdios da história passo-fundense, a Academia de Samba Cohab I exibe o segundo ciclo, seguida pela Pandeiro de Prata. A União da Vila fecha o evento, contando a história dos dias atuais. “Os ensaios começam na semana que vem. Cada escola tem seu ensaio, mas uma vez na semana, até o dia do desfile, todas vão se reunir para fazer um ensaio geral em algum bairro. Pretendemos que seja uma espécie de show para as comunidades. Vamos colocar food truck, uma mini copa... Já temos alguns interessados. Ficaremos com certa porcentagem do lucro e o restante fica com a empresa. Assim, é uma forma de arrecadar recursos”, afirma Machado.
Corte
Já está definida, também, a Corte do Carnaval de Rua 2020. A escolha aconteceu em dezembro de 2019, em um evento promovido pela Liga Independente das Escolas de Samba de Passo Fundo. Disputada por sete candidatas, a coroa de rainha ficou com Kaliber Agatha Bicca Maia. Vanessa Rocha e Kamilly Ribeiro foram eleitas 1ª e 2ª princesas, respectivamente. Elas se juntam ao Rei Momo, Lucas Meira, de 24 anos de idade, que já havia sido escolhido em outubro passado, através de votação nas redes sociais. Lucas obteve 1,6 mil votos dos cerca de 2,7 mil totais, concorrendo com outros três candidatos. É a primeira vez em dez anos que o município conta com um novo Rei Momo. Até então, o representante permanecia o mesmo, devido à falta de interesse de outros concorrentes.
Importância cultural
Apesar das dificuldades, Felipe Machado enxerga o retorno do Carnaval de Rua de Passo Fundo com olhos otimistas. Para ele, embora tenha tido sua imagem denegrida e desvalorizada nos últimos anos, o desfile faz parte da cultura de Passo Fundo e deve, cada vez mais, ser inserido dentro dela. “É o único dia em que o negro e o pobre é visto por todos. Claro que envolve outras classes, mas para essas classes menos favorecidas, que não têm visibilidade o ano todo, é uma das únicas oportunidades de se apresentarem para a arquibancada e os meios de comunicação e serem vistas por toda a sociedade de outras maneiras. O pessoal está ali para ver a arte deles. Esperemos que o carnaval deste ano seja o primeiro passo para que a gente volte a ter o mínimo de dignidade e que as pessoas olhem para nós com outros olhos”.