A palavra como expressão humana guarda efetivamente o grande elo existencial socializante inarredável da própria natureza. O olhar atento de um casal contemplando um bebê recebe as primeiras manifestações de vidaaprendendo que o choro quer dizer alguma coisa. Falamos com a criança com palavras de afago procurando ampliar as sensações do tato. E logo nos enchemos de emoção ao ouvirmos o balbuciar. Pronto! É inigualável! Ouvir: mamãe, papai, é intenso para sempre.Inicia-se ofecundo envolvimento. O imaginário mútuo dá os primeiros passos do relacionamento. Essa distinção do homem perante os demais seres é evocada desde priscas eras como alude a Escritura Sagrada, segundo São João: “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele, nada do que foi feito se fez.”
A linguagem
Entender, mesmo sem o inalcançável saber pleno sobre a existência, subordina-se à linguagem, como palavra, emissão de sons, risos, lágrimas ou até o silêncio. Em Fundamentos de Filosofia, Bertrand Russel define: “O homem tem várias vantagens em relação às bestas; por exemplo, o fogo, as roupas, a agricultura os instrumentos (...) A mais importante de todas, porém, é a linguagem”. A faculdade de pensar só existe efetivando-se através da linguagem, falada, escrita, na imagem, ou de outra forma explicitada.
A comunicação
A palavra incorpora importância que não pode ser desconsiderada em qualquer circunstância. O sistema de comunicação é memória e vitalidade, carregando transformações e ímpetos tanto criadores como destruidores, preconizando acontecimentos velozes como nunca na caminhada da humanidade. O saber humano se dá pela comunicação centrada na palavra. A tecnologia produz o milagre de nutrir a humanidade, mas dá à consciência humana o poder de destruição quando as palavras assomam rumos babilônicos. A guerra é nosso medo mais terrível quando a palavra vem mórbida pelo ódio. Palavra é a comunicação em forma de diálogo capaz de suscitar consciências salvadoras.
Salvar ou condenar
O uso irresponsável da palavra, som, gesto, ou imagem, incluindo-se a omissão - produz a destruição. Vejam os meios eletrônicos que flecham o cotidiano com imagens que informam, divertem, socorrem, mas que também destroem. A sensação apócrifa gera o ódio disseminado em forma de palavras maldosas. A covardia! Precisamos mais cuidado para que a palavra preserve sua natureza cooperativa sem a precipitada condenação, quando esta é feita em sinais apenas aparentes.
Conhecer a palavra
O conhecimento se relaciona imprescindivelmente em relação à palavra. Os meios cibernéticos aceleraram abruptamente as formas de sons e sinais tornando-os instantâneos. A alusão cartesiana “cogito ergo sum” (penso, logo existo) teve sua importância elevada imensuravelmente.
Leitura
Passamos a uma experiência da maior importância para acompanhar o espectro da linguagem como a Jornada de Literatura de Passo Fundo, editada desde 1981 pela professora Doutora Tania Rösing. O movimento educacional cultural gestado na UPFfoi o mais revolucionário e prático propagador na criação de amplo acesso ao conhecimento. Trata-se de assumir a função da palavra, o verbo.
Respeito
A palavra como instrumento de comunicação é a forma saneadora de preservar as relações. O respeito mútuo nas diferenças resolve-se principalmente pela expressão falada. Está aí a questão do racismo. O zelo pela palavra, nas suas diferentes formas de manifestação, evita que o ser humano ultraje sua própria natureza. É devotar ao semelhante a mesma consideração ao falar ou se dirigir a outrem, sem que a diferença de cor ou outra condição prejudique a respeitabilidade.
Racismo
A dignidade no relacionamento cotidiano tem um alerta para os gaúchos. Nos estádios de futebol as palavras de ódio e racismo maculam a decantada tradição gaúcha. Os casos se repetem na ofensa a atletas negros. É caso em que a palavra fere covardemente. Esta morbidez social precisa acabar.