Os efeitos de uma estiagem mais severa, que retornou ao estado gaúcho após sete anos, não prejudicou apenas os cultivos de milho, soja e fumo das médias e grandes propriedades rurais. Os pequenos produtores regionais ainda calculam os prejuízos causadas às lavouras de legumes e hortaliças que abastecem, semanalmente, a Feira do Produtor de Passo Fundo.
Os cultivos, sobretudo, de folhosas, milho verde, feijão e moranga foram os mais atingidos pela escassez de chuvas no período de maturação e crescimentos dos hortifrutigranjeiros, conforme apontou o presidente da Feira, Mércio Michel. Sob influência climática do fenômeno El Niño, que previa chuvas acima da média para a região, os pequenos produtores iniciaram o ano otimistas em relação à produtividade dos alimentos orgânicos, como contou. "O que mais prejudicou foram as culturas não-irrigadas. A qualidade caiu bastante também", avaliou.
A quebra na safra de verão obrigou os cerca de 50 agricultores, que se deslocam aos sábados ao Parque da Gare para comercializar a colheita, a reduzirem em até 50% o valor das hortaliças."A alface estava sendo vendida a R$ 2 reais, agora você encontra por R$ 1 real. O feijão a R$ 6", disse ele. "Não consigo entender porque aumentar o preço ao consumidor se a qualidade caiu", prosseguiu. Ainda sem ter um diagnóstico preciso sobre o impacto econômico que a falta de chuvas regulares causou na propriedade rural que mantém, no bairro São José, o agricultor afirmou, no entanto, que as cultivares acondicionadas em estufas, como a melancia e o melão, conseguiram completar o ciclo de desenvolvimento esperado para os cultivos. "A gente acaba tendo prejuízo ou empatando porque o dinheiro que a gente recebe com a Feira é investido nas lavouras", mencionou.
Se para o consumidor essa redução no preço significa a possibilidade de economizar no orçamento doméstico, para os pequenos agricultores da região a baixa na rentabilidade reflete no trabalho dobrado que já está sendo desenvolvido em algumas propriedades rurais. "Na minha lavoura, tive perda total no feijão, que já está sendo plantado de novo. O milho verde também foi bastante afetado", relatou Michel. A estiagem, segundo narrou, não permitiu a colheita de dois hectares do grão. "Para um pequeno produtor é bastante", desabafou.
Chuvas retomam ânimo dos produtores
As chuvas que retornaram ao estado durante a última semana, mesmo que com intensidade e distribuição desuniformes nas diversas regiões, contribuíram para o rebrote e à retomada do crescimento das pastagens nativas e cultivadas, e para a irrigação de cultivos afetados pela seca. Apesar dos acumulados, a produção de milho, conforme apontou o último monitoramento da Emater/RS divulgado na quinta-feira (16), ainda apresenta déficit hídrico em boa parte das lavouras.