OPINIÃO

Nem o Nº 1 e nem o Nº 2

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Se você é daqueles que não vê nada de mal em flertar com ideias totalitárias, e, frise-se, independente de matiz ideológico, pois exemplos de barbáries são facilmente encontráveis em regimes de exceção tanto de extrema-esquerda quanto de extrema-direita, pode valer a pena rememorar algumas aulas de história, para, dependendo do seu caráter, consolidar de vez a sua convicção ou, pelo menos, suscitar um pouco mais de reflexão.


Talvez, na história da humanidade, não tenha havido obsessão tão grande para o extermínio de um povo como a que foi levada a cabo por Adolf Hitler e seus seguidores nazistas de extrema-direita contra os judeus; ainda que Stalin e seus seguidores comunistas de extrema-esquerda não tenham deixado por muito menos. Mas, era mais do que os judeus que os nazistas queriam erradicar, pois atacaram principalmente a inteligência, a sensibilidade e a cultura que os israelitas haviam desenvolvido na Alemanha e de resto em toda a Europa. Se não, como entender a proposta da solução definitiva da questão judaica, que veio à luz, em junho de 1946, em Nuremberg?


Foi por ocasião do interrogatório do S.S. Oswald Pohl que, num certo dia de junho de 1946, três juízes americanos ouviram a expressão que há muito suscitava dúvidas. Oswald Pohl declarou que um dos seus colegas, Hoess, havia sido encarregado por Himmler para a solução definitiva da questão judaica. Então, perguntado em que consistiria essa solução definitiva, com naturalidade, respondeu: no extermínio de todos os judeus.


Essa expressão, até então, era ignorada pelos principais dirigentes nazistas que depunham em Nuremberg. O marechal Goering afirmou nunca tê-la empregado, mas a sua tese caiu por terra quando apareceu uma ordem dele dirigida a Heydrich, chefe da S.D., de 31 de julho de 1941, dando-lhe plenos poderes para os preparativos de uma solução definitiva para a questão judaica nos territórios europeus dominados pela Alemanha.


O plano original era de Hitler, evidentemente. Em inflamado discurso de 3 de janeiro de 1939 ele havia repetido à exaustão que “se os banqueiros judeus internacionais conseguissem fundir as nações em uma guerra mundial, dela resultaria o aniquilamento de toda a raça judia na Europa.” Era uma espécie de profecia do mal.


Goering, Himmler e Heydrich trataram de por a Ordem do Führer, ainda que não escrita, em prática. Definiu-se, em junho de 1942, que a solução definitiva da questão judaica deveria afetar ao redor de 11 milhões de judeus. E detalharam-se as cifras por países, a forma de extermínio, o uso como mão de obra, etc. O representante da Polônia, dizem, pediu prioridade para a solução do problema no seu território, que envolvia algo como dar destino a uns 2,5 milhões de seres humanos.


O primeiro passo foi reunir os judeus em guetos de grandes cidades, de onde ficaria mais fácil enviá-los para o seu destino final. E começou o horror, desde fuzilamentos em massa, comboios de trens de prisioneiros, campos de concentração, trabalhos forçados, experiências científicas atrozes com seres humanos, câmaras de gás, fornos de incineração, etc.


O mais importante dos campos de extermínio, os Vernichtungslager, foi Auschwitz, onde até 6000 pessoas por dia eram levadas às câmaras de gás. E do qual Rudof Hoess se “orgulhava” de ter reorganizado o extermínio de judeus pela melhoria do tamanho das câmaras e pelo uso do Zyklon B., que, dependendo das condições atmosféricas, fazia efeito em até 15 minutos. O odor dos fornos nos arredores de Auschwitz nunca deixou de denunciar o inferno que ali ocorria.


Se um histriônico cabo vindo da Áustria conseguiu dominar as mentes de uma Pátria que gerou gente como Goethe, Brahms, Schiller e Beethoven, imaginem o estrago que profissionais de teatro, ideólogos de ocasião e fake news bem produzidas podem fazer em cabeças formadas quase que exclusivamente pelas redes sociais?


Nunca é demais relembrar que, no término Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill vaticinou que, uma vez terminado com o inimigo Número 1, agora o dever era terminar com o inimigo Número 2. Ambos estão mortos. Não nos cabe ressuscitá-los!

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