Trote do Bem marca início da vida acadêmica de 50 jovens

Crianças em tratamento oncológico cortam cabelo de calouros de medicina

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Tradicional rito de iniciação à carreira médica, o Trote Solidário envolveu 50 graduandos da UPFTradicional rito de iniciação à carreira médica, o Trote Solidário envolveu 50 graduandos da UPF
Tradicional rito de iniciação à carreira médica, o Trote Solidário envolveu 50 graduandos da UPF
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Enquanto aguardava os universitários que, em grupos, subiam as escadas do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), o pequeno Emanuel Montiel, de nove anos, acionava o botão para ligar a máquina de cortar cabelos, sentado em uma poltrona no Centro de Tratamento Oncológico Infantil da unidade hospitalar. O barulho, que provocou os risos do jovem paciente, logo se amplificou pelas gargalhadas dos 50 calouros do curso de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF) a cada novo deslize das lâminas na cabeça dos voluntários até não restar mais nenhum fio.


O gesto, repetido inúmeras vezes ao longo da tarde de terça-feira (18), é simbólico para os ingressantes na carreira por marcar, através do Trote do Bem, a iniciação na vida acadêmica da área médica. “É uma coisa extraordinária porque mostra para eles que para exercer a medicina, além de tudo que aprendem, precisa ser humano”, disse o jovem Alisson Antônio Zuchi. Ao lado de Emanuel, o paciente de 16 anos, foi o responsável pelo corte nos cabelos dos universitários. A ponderação dele, aliás, foi endossada pelo acadêmico Bruno Kreutz. Ao lado dos colegas, sentados em círculo no chão da sala de tratamento, e já calvo, o mato-grossense de 21 anos enfatizou que a adoção da solidariedade contribui para ressignificar esse rito de passagem do ensino médio para o superior. “Até pouco tempo atrás, o trote tinha uma conotação bastante negativa. Para nós, ter esse breve momento pode significar um ato de confraternização, mas para essas crianças é um gesto de empatia, de estender a mão e se colocar, por um instante no lugar deles, porque antes de sermos médicos, somos humanos”, afirmou. “Querendo ou não, essa visão mais humanizada da medicina é algo que está faltando”, prosseguiu.

 

Laços estreitos

O corte, no entanto, não foi apenas em voluntários masculinos. As universitárias se posicionaram no centro da roda para a medição dos cabelos. Os 15 cm que Alisson e Emanuel retiraram de cada uma das acadêmicas, serão destinados à confecção de perucas naturais para outras pacientes em tratamento oncológico no HSVP. “Nós sabíamos que teria o trote solidário e como estávamos aqui resolvemos participar. Eu acho que é um incentivo, principalmente para os pacientes, e para quem está começando”, reiterou a mãe de Alisson, Elinaura Gaboardi Zuchi que acompanhava atenta às movimentações na sala. Há um ano e três meses, ela se desloca de Marau ao lado do filho para o tratamento após o diagnóstico de osteosarcoma [tipo de câncer ósseo que começa nas células formadora dos ossos].


Ao lado dela, também com o celular em mãos para registrar os mínimos movimentos do ato de solidariedade, a mãe do pequeno Emanuel, Raquel Montiel, observa os movimentos cautelosos do paciente, internado para uma biópsia e diagnosticado aos oito anos com Sarcoma de Ewing [tumor maligno que afeta os ossos ou os tecidos moles do corpo humano]. “Foi uma emoção porque isso vai servir para ele, se precisar passar de novo por uma quimioterapia, se sentir mais forte e entender que não é só nele que cai o cabelo”, assegurou.



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