OPINIÃO

As ciências que não são científicas

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As ditas ciências sociais, em cujo agrupamento inclui-se Economia, Direito, Psicologia, Sociologia, Antropologia, História e outras tantas, apesar do epíteto “ciências”, são consideradas como NÃO CIENTÍFICAS, conforme tese defendida por Lee McIntyre, que é pesquisador no Centro de Filosofia e História da Ciência na Universidade de Boston.
Entenda-se, dizer que as ciências sociais não são cientificas não é a mesma coisa que dizer que são pseudociências, charlatanices ou outros quejandos do mesmo naipe. Inclusive, frise-se que não há homogeneidade nas ciências sociais no quesito cientificidade. Umas podem estar mais próximas e outras mais afastadas do padrão adotado pelas ciências naturais que define o que é e o que não é ciência. Temos desde os “experimentos controlados” da psicologia social, passando pelos estudos de caso da sociologia e os trabalhos de campo da antropologia, até os modelos dos economistas neoclássicos e suas pressuposições teóricas que deveriam, mas nem sempre guardam aderência com o mundo real, uma vez que não temos informação perfeita e nem somos perfeitamente racionais. O que falta para as ciências sociais efetivamente poderem ser consideradas científicas, insiste Lee McIntyre, é os seus protagonistas assumirem a atitude cientifica como regra. O que faz a ciência especial não é o jeito que os cientistas conduzem suas pesquisas, mas a atitude que assumem na sua prática.
À logica positivista, que impregna de preconceitos as ciências naturais, e aos seguidores de Karl Popper (ainda que Popper tivesse consciência que não existe método cientifico) podemos atribuir o culto ao método na ciência. E por não se sujeitarem ao princípio do “falsificacionismo”, pela regra clássica de Popper, as ciências sociais não poderiam ser científicas. Adicionalmente, advém a dificuldade, nas ciências sociais, para a realização de experimentos controlados e o papel desempenhado pela subjetividade na interpretação de resultados. O fundamental, reitera-se, é a atitude a ser adotada para lidar com evidências empíricas, que, muitas vezes, parece faltar para os cientistas sociais.
Algumas particularidades das ciências sociais podem ser responsáveis pela sua não inclusão na categoria científica. São muitas as teorias com que se tem de lidar nas ciências sociais, pouca a experimentação (frequentemente sem repetições) e rara a geração de dados primários, além do uso de conceitos difusos e, frequentemente, com os resultados sendo contaminados ideologicamente. Nesse ambiente, sem ou com pouco compartilhamento de dados e onde a necessidade de repetição não é a norma, erros podem surgir e opiniões, mais do que conclusões embasadas em evidências, predominarem, a partir da obtenção questionável de relações de causa e efeito por meio de estudos de correlação (frise-se, correlação não significa relação de causa e efeito). Além de requererem, sistematicamente, a interpretação hermenêutica de comportamentos que podem diferir entre culturas ou até mesmo entre indivíduos.
Entre os estudos que são levados a cabo pelas ciências sociais e cujos resultados podem ser facilmente contaminados pela visão e ideologia políticas dos investigadores, tem-se aqueles que tratam de questões que envolvem políticas de imigração, de controle de armas, de liberdade religiosa e de igualdade racial e de gênero, por exemplo. Uns, sobre o mesmo tema e o mesmo alvo de estudo, produzirão resultados e conclusões liberais e outros conservadores, que serão diametralmente opostos. Uma notória contradição que, nas ciências naturais, não seria tolerada. Então por que, nas ciências sociais, não só toleramos como nos digladiamos em debates acirrados, especialmente pelas redes sociais, defendendo um ou o outro lado?
Indiscutivelmente, seja nas ciências naturais ou nas ciências sociais, precisamos de salvaguardas contra a nossa arrogância intelectual e evitar conclusões predefinidas, tipo isso não é necessário ou isso é impossível, bem como eliminar os nossos vícios de cognição e os nossos conflitos de interesse.

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