OPINIÃO

O humanista Victor Hugo

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No final de fevereiro, dia 26, foi data que lembra o romancista e dramaturgo Victor Hugo, nascido em Besançon, na França em 1802. Morreu em 1885. É lembrado como um dos maiores escritores de todos os tempos. Sua vida foi repleta de emoções, perdas e conflitos com sistema de poder, como a investida contra as tiranias de Napoleão. Humanista profundo e defensor da fé religiosa. Os Miseráveis, Les Travailleurs de La Mer, O Corcunda de Notre Dame, foram (entre) obras que eternizaram sua vida literária, além das peças teatrais e poemas que construiu. Sua criação perpassa décadas invadindo séculos em frases fatais, de esperança, ou fascínio pela vida. Exerceu enorme persuasão como ativista dos Direitos Humanos.

Lembrou do Brasil
Ao apreciar o escritor Victor Hugo, embora pouco o conheça, percebemos que nosso imperador Dom Pedro-II fora amigo próximo do insólito pensador. Como sabemos, o imperador foi pessoa culta e de inúmeras virtudes que o marcaram pela bondade e cultura elevada. Persistia, no entanto, e de modo intrigante, a crítica de alguns autores que atribuíam a Hugo, reduzida influência na questão crucial do país, no século 19: A escravidão. Como conceber que um influente pensador comprometido com a liberdade aparecia como omisso no processo abolicionista? Apesar da ascendência sobre o imperador ficou (como espectro) a versão inconcebível, alheia à maior tragédia humana de nossa história. Havia ligação forte entre os dois. Finalmente, veio-nos às mãos a obra de Osvaldo Orico que descreve a luta de José do Patrocínio - O Tigre da Abolição. E lá encontramos a fonte da carta enviada por Victor Hugo, de Paris, ao imperador do Brasil. Obra prima da expressão libertária, dois anos antes de sua morte. Para nosso modesta opinião foi um alívio.

Liberdade é lei humana
O fogo da liberdade ambulava pelas cidadelas do nordeste brasileiro onde José do Patrocínio liderava mobilização forte pela abolição. Era 1883, e o O Tigre da Abolição acirrava o conflito abolicionista que se expandia no Ceará, com severas publicações do jornal Gazeta da Tarde. Já em Paris, Patrocínio recebia a notícia de que crescera o movimento abolicionista com a proclamação no estado em 1884. O líder popular da abolição dirigiu-se a Victor Hugo para que concitasse Dom Pedro – II a proclamar de uma vez a libertação dos escravos no Brasil. O dramaturgo respondeu imediatamente ao apelo de Patrocínio. Ao saber que uma província brasileira havia decretado abolição celebrou com vigor a grande nova. Manifestou discordância com a horrível demora da abolição. “La liberté est la loi humaine”. E incitou a luta emancipacionista “avante até o fim dos séculos, que a escravidão seja expurgada da terra!” E definiu, ao final de sua carta, numa palavra, que a liberdade é a situação de progresso, que seja recusada a barbárie..., “La civilization avance!” A manifestação pulsou forte no país. Foi texto memorável. A carta vem publicada no livro “A Campanha Abolicionista”. Vale a pena a quem for melhor versado em francês, o original deste manifesto ao Brasil, feito por um dos maiores autores de nossa história mundial. É de se imaginar que Vitor Hugo pudesse ter influenciado mais neste período de nossa pátria. Mas é importante também considerar que sua possível influência ficasse velada pelo poder bandido que cercava o palácio, que sempre sonegou transparência de ideias da legítima liberdade. Então, ficamos aliviados com a revelação à nossa incipiência sobre a história do Brasil.

Saber e honra
A manifestação sábia de Victor Hugo, postando-se como fiel defensor da Abolição da Escravatura faz-nos crer que muitas pessoas ilustres e justas, com saber e honra, combatiam a escravidão. Ao contrário, o escritor José de Alencar, com algum sucesso como autor de romance, foi tribuno medíocre que mentiu com sua habilidade literária, para si e para a comunidade, e covardemente insistia em manter a escravidão execrável.

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