OPINIÃO

A mãe que acalentou a luta

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Ao mesmo tempo em que ainda vigia a pena de morte para escravos no Brasil, 1884, a força popular libertária das ruas e das jangadas espalhava-se ruidosa sob a impetuosa liderança de José do Patrocínio. A crueldade escravocrata empedernida no Congresso Nacional persistia no holocausto de três séculos de um governo reticente. Mas a aurora da liberdade encandecia os horizontes que proclamavam a abolição no nordeste e no sul, em Porto Alegre, Uruguaiana, São Borja, e Viamão. O amor à vida e a ira sagrada dos rebeldes emancipacionistas eram emoções de luz que contagiavam os quadrantes brasileiros, num furor sano centralizado na velha cidade de Campos dos Goitacases. Foi programado encontro de acalanto, para receber José do Patrocínio que voltava da incursão na Europa. Quem chegou ambém foi a mãe, Dona Justina.

Mulher homenageada
O guerreiro implacável da abolição, José do Patrocínio, filho do Reverendo Padre João Carlos Monteiro, quis a justa e homenagem à figura de sua mãe, a preta Justina. José Eurico descreve o momento em que foi homenageada a humilde senhora, a mulher que dedicou a vida a fortalecer o filho, O Tigre da Abolição. É emocionante o texto do autor: “Assentados à mesa do memorável banquete, os convivas trocavam as primeiras impressões, quando um fato inesperado e estranho despertou a atenção de todos. Houve um rumor que se traduziu em ansiedade coletiva no grande salão regurgitante. Os olhares logo se dirigiram para a cabeceira da mesa, cujo lugar estava vazio. E quando se pensava que nele iria assentar-se os maiorais da causa ou desses medalhões que impressionam pela riqueza de estampa ou pela majestade da efígie, a instâncias de Pedro Albertino e Carlos de Lacerda, aparece aureolada na modéstia de seu vulto e na obscuridade de suas origens, a figura da preta Justina, a os abolicionistas conferiram a presidência do banquete, e que, pela primeira vez, cheia de pudor e constrangimento, assume de público a responsabilidade do seu sacrifício e do seu sangue na vida que ali se glorifica.”

Esplendente maternidade
A narrativa de Osvaldo Orico consagra o prestígio moral e a força da mulher no papel libertário. Com saúde abalada a estremada mãe Justina faleceu logo em seguida à homenagem. Uma multidão acompanhou seu sepultamento. Entre as expressões culturais e políticas, foi reverenciada pelo senador Sousa Dantas, Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva, Joaquim Nabuco, Jerônimo Sodré Pereira, José Mariano, Álvaro Botelho, Aristides Spínola, Campos Sales, Prudente de Morais, Martim Francisco e Ferreira de Araújo. Foi o preito digno prestado pelo povo nas ruas e pelos mais expressivos vultos da pátria a uma mãe zelosa, mulher e símbolo da luta libertária. Justina foi mulher leoa que rugiu de amor e sustentou elo esperançoso do filho herói, O Tigre da Abolição!

Racismo
A indignação pelas manifestações racistas em estádios de futebol revela que a sociedade não aceita mais essa perversidade. A condenação de dois adultos que praticaram crime de racismo contra a apresentadora da Globo, Maju Coutinho poderia ser mais severa, mas ao menos significa reprimenda pedagógica. Esta sociedade maldosa que insiste na ofensa injusta a irmão por causa da cor é simplesmente um resto de mau caráter.

Contra
Está difícil entender como exercício democrático o ataque presidencial aos poderes constituídos. Bolsonaro está na prelibação de autorismo.

Coronavírus
Agora não adianta mais dizer que a crise do novo vírus é passageira, ou que não seja tão grave. Acontece que a epidemia é mais importante para alguns mercados mundiais do que para o destino das pessoas. A história registra surtos dramáticos de mortes por toda parte. Certamente hoje temos mais recursos do que ocorria com a gripe Espanhola, que abalou o mundo no início do século passado. Por outro lado a aglomeração populacional é séria indagação mesmo com os avanços da ciência médica.

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