Por um conceito altamente subjetivo classifico as gerações a cada dez anos, tipo anos 70-80-90. Assim, quem nasceu em 1907 estava recebendo vacinas à força, por obra do nobre sanitarista Osvaldo Cruz. Hoje clamamos por vacinas. Quem nasceu dez anos após, estava eufórico pelo termino da segunda guerra. Em 1927 brigávamos entre chimangos e maragatos (Batista Lusardo x Flores da Cunha, e de fininho Osvaldo Aranha e Getúlio conciliavam para a saída honrosa de Borges de Medeiros. Em 1937, a constituição polaca e o Estado Novo, períodos de exceção com inspiração germanófila no Brasil Argentina e a admiração ao império alemão até pelos norte-americanos (já referida em crônica anterior sobre a rede de negócios de Hollywood com Goebbels). Em 1947, dona Pombinha (esposa do Presidente Dutra) já tinha acabado com os cassinos do Rio e com a rede de espetáculos do gaúcho Carlos Machado e surgiam as boites, conhecidas como inferninhos em que até o grande Carlos Heitor Cony fazia bico tocando piano. Em 1957 nascia Jorge Anunciação, trinta anos após o nascimento de Divaldo, no mesmo 5 de maio. A gente nem era campeão o mundo, Gagarin nem tinha subido ao espaço. Sei que brilhava Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano e Dorival Caymi (Maracangalha).
Em 1967 já tinha Beatles, Elvis, os festivais de música, Che Guevara se despedia lentamente e A TV passava a fazer parte dos nossos lares. 1977, rede Globo consolidada e Agepê brilhava no cenário musical tal qual Guilherme Arantes. Enfim, quanta diferença. Imagine uma morte física em 2000, o congelamento do cara e seu despertar em 2020. Estaria francamente defasado.
Por volta de 1964-65 meu pai apontava para aquele cara que atravessava a rua carregando livros e cadernos e sentenciava: é um sujeito de valor...porque trabalha de dia e estuda à noite. Pronto, essa passava a ser minha referência; valor tinha a pessoa que dava um duro danado para vencer na vida. Hoje, não necessariamente é assim, o jovem tem pressa para chegar ao sucesso mesmo que isso sacrifique a tal felicidade; os ídolos de boa parte de nossa juventude morreram de overdose, são funkeiros, jogadores de futebol, cantores sertanejos descartáveis; quando não são traficantes debochados que ostentam jóias e armas na rede social
Em 1889, com apenas 4 dias de diferença, nasceram em abril Adolf Hitler e Charles Chaplin; ambos tiveram infâncias difíceis; um se consagrou na arte e o outro na barbárie; Hitler adorava os filmes do genial vagabundo, até mesmo O Grande Ditador; Hitler copiou o bigodinho de Chaplin. Chaplin ere um homem de valor, deveria ser referência.
Ontem, no Grenal, homenageamos a barbárie e mostramos para as nossas crianças como não deveria ser o mundo. Se ficássemos congelados na infância e com o congelamento de nossos sonhos do inocente mundo do futebol de Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos e acordássemos durante o jogo de ontem é provável que disséssemos, meu Deus, quanta diferença; achei que era jogo de bola e é pugilato.