A pandemia do coronavírus em sua franca historicidade, é um campo para expressar reflexões de senso, mas também maniqueísmos. Ao se espalhar a doença no mundo, o Brasil tratou de logo assumir sua posição no globo terrestre, através dos viageiros oficiais, onde adoeceu uma comitiva presidencial. Bolsonaro, felizmente, saiu ileso para comandar o combate ao vírus no território nacional. E foram muitos os disparates que desafiam a ciência médica, a quem cabe orientar a prevenção sanitária. Seu filho Eduardo, com aquela presença esquisita, de ouriço de coivara, quis logo atacar a China como país aliado aos russos e, portanto, comunista. Nem pensou em propor ajuda aos trabalhadores impedidos de trabalhar, pelo cumprimento da ordem dada para ficar em casa. Atrapalhou as relações com a China, nosso principal comprador. Bolsonaro continua dizendo-se contrário à ordem de recolhimento. E foi conclusivo em afirmar que a Itália vive a desgraça porque tem uma população de velhos. Depois mandou medida provisória definindo que empresários poderiam suspender contratos de trabalhadores sem pagar, por 120 dias. O Congresso não balançou o rabo e reverberou forte a discordância com esta norma, que foi logo revogada pelo próprio presidente, desfazendo a escorregada em favor dos empregadores. Insistiu, em seu pronunciamento, na qualificação como histeria, esta que é a gigantesca mobilização de resguardo para deixar o povo em casa. É óbvio que parar a força de trabalho é prejuízo de alto custo. Em parte tem razão diante do inevitável abalo financeiro pelo isolamento. Não precisava, no entanto, escarnecer do esforço das autoridades sanitárias e uma legião de heróis que ajudam o povo. Bolsonaro tem seus seguidores, como o médico Pacheco, um gaúcho que se diz radical em desconsiderar a gravidade da pandemia. Na sua entrevista, além de não apresentar outra solução melhor que o recolhimento das pessoas, limitou-se a suposições bem estranhas à vertente da ciência médica mundial. O que parece é que o leigo Bolsonaro está magoado por não impor sua tese diante das ações do ministro Henrique Mandetta.
Decepcionado
É perceptível que o sistema governante vinha armando cerco para reduzir o SUS, o maior sistema de alcance social de saúde. A erupção do coronavírus mostrou que a organização do sistema pode salvar nossa população de um desastre. Acho que o presidente foi tomado de perplexidade, uma vez que ficará difícil desmontar o SUS, depois desse episódio.
Mais sensatez
O esforço de determinados setores mais radicais de oposição em atacar o besteirol de Bolsonaro poderia ser melhor dirigido. É hora de enfrentarmos a crise e deixarmos de lado a pessoa do presidente. Nessa hora temos que somar posições decisivas para sobreviver. Mais tarde a gente revisa.
Mais feno
O quadro político entre poderes constituídos precisa aliviar os embates internos. Sem dispersão! É o conselho de Virgílio ao senado Romano: “Fenum in cornua” (é preciso colocar mais feno nos chavelhos, ou cornos).
Efeito tóxico
A imprensa, através de suas frentes de informação no rádio, TV e jornais realiza sua maior experiência dos últimos anos. É a informação semelhante à cobertura de guerra. Afinal, o profissional fica exposto ao contágio. Quem recebe as notícias precisa conhecer a si mesmo e discernir a intensidade do noticiário. Cada um é um receptor típico que deve calibrar a densidade de informações para evitar o efeito tóxico, principalmente se fica em casa o dia inteiro. Às vezes é bom desligar os aparelhos para uma reflexão pessoal. A imprensa, por sua vez, cumpre o dever de divulgar os fatos.
Água
Não raro, temos insistido na importância que tem para o destino das cidades o fornecimento de água potável. Imaginem como as populações mais pobres, especialmente nos estados de São Paulo e Rio, poderão conservar a limpeza das mãos e objetos. Falta água, minha gente. Ao mesmo tempo, o momento é alerta contra a precariedade do sistema de saneamento nas cidades.