Quarentena na Quaresma
Há uma semana estou em quarentena. Quando criança, eu passei por situações semelhantes por causa de sarampo, caxumba e outras doencinhas bem controláveis. Mesmo com comidinha na boca e todos os cuidados necessários, permanecer em casa era um tormento. Desta vez, com muitas rotações no meu hodômetro, estou em quarentena coletiva. E, no mais belo e puro português, trabalho em casa. Agora, em absoluta solidão, o cenário é bem diferente daqueles dos tempos de piá. Obviamente, sofro com o exílio. Estou acostumado a conversar com dezenas de pessoas diariamente. Telefone e outros meios têm o ranço da impessoalidade. Ora, como faço sem um espresso (o legítimo é com “s”) do Oásis? Um chope no Bokinha? Ou um rock no Batatas? Não é pelo café, chope ou música. É pela ausência de companhias. Somos sociáveis e sofremos com o isolamento. No entanto, mais vale um isolamento temporário do que o silêncio da eternidade.
Hoje vivemos uma pandemia mundial e o inimigo é uma incógnita. O período é uma espécie de eclipse no calendário, pois estamos na Quaresma. Independente da religião é uma época de recolhimento, inclusive para os nossos Orixás. Parece que há uma ordem coletiva que nos manda para casa. Ou melhor, suplica para não sairmos às ruas. Simples e pura racionalidade, pois sem a movimentação de pessoas praticamente inexiste contágio. A resposta está na matemática, através da fórmula da progressão geométrica. Na rua potencializamos o multiplicador, seja como receptores, transmissores ou incautos transportadores do vírus. Então, quem não respeitar essas determinações está cometendo um crime, colocando em risco terceiros além da sua própria vida. Há exceções, aqueles que se movimentam para cumprir importantes papéis em dias difíceis. Mas, infelizmente, ainda observo muita gente simplesmente passeando por aí como se nada houvesse. Seriam apenas irresponsáveis ou foram abduzidos pela idiotice? Fiquem em casa!
O desperdício
Nesses dias de total dedicação aos afazeres domésticos, o aprendizado é imenso. A primeira constatação é que desperdiçamos comida, saúde, energia, vida, espiritualidade, tempo e, o menos importante, dinheiro. Então, naturalmente, aperfeiçoamos nossa conduta para não desperdiçar. Isso vale para um pedacinho de batata ou uma gota de álcool gel. A pandemia assusta, mas também transforma.
Esterco digitalizado
Enquanto a tecnologia avança e nos propicia grandes facilidades de comunicação, os seres humanos não acompanham essa evolução. Não falo sobre conhecimentos em informática. O problema é o péssimo uso da tecnologia ou os instrumentos em mãos não habilitadas. Em época de pandemia e amedrontados pelo desconhecido, ainda somos alvo da distribuição de um festival de insanidades. Ora, fiquem em casa. Mas, por favor, parem de repassar aquilo que as mentes insanas produzem. Ou seja, esterco.
Chamem o Síndico
Segundo Tim Maia, o Brasil era o país onde prostituta tinha orgasmo, cafetão sentia ciúmes e traficante cheirava. Agora também pisamos em solo achatado pelo explícito desrespeito à ciência. Quem deveria dar bons exemplos num momento crítico, chuta o balde do conhecimento para espalhar o ódio político. Já não bastasse o risco de uma contaminação viral, ainda temos a ameaça de uma insanidade coletiva.
Trilha sonora
Então vamos chamar o Síndico: Tim Maia – Gostava Tanto de Você
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